domingo, 24 de outubro de 2010

o silêncio dos cordeiros

O SILÊNCIO DOS CORDEIROS




     Descrever a insônia traz um gosto tão desagradável quanto o amargo humor do abstêmio. Não passaria perto do processo se contasse sobre a luz em taco de madeira. Ou do casebre em seus arbustos de acanto. Ou o cheiro de lavanda no campo. Mesmo a lavanda sendo abstrata, ela tem fonte concreta e fora. O lúdico aqui é seco, está em todo o céu da boca de quem mal acorda. Não há violinista que pega a tonalidade desse suspiro. Bem compreende o “mal dormir” aquele que não dorme. A treva tem seus segredos e silêncios. Insidiadas no exagero etílico, incontrolável e fraco torna-se o mudo, apresentam-no como carta de visita o berro, em troca do descanso. O espírito contrariado se vinga com mais destreza e eficácia que qualquer bom conselho dado. Não dorme e nem bebe.

     - És jovem ainda, contas com toda a vida pela frente, por quê?

     - Se não estivesse ébrio, choraria.

     Podemos elevar-nos numa viagem, de como no corpo, o excesso persegue o brilho, numa linha tênue, como o ocaso parece seguir a aurora, trocando as cores, pois o que o acorda é o escuro. O tempo passava insaciável, poderia dizer que vivia bem, olhando-o de soslaio alguma boa consciência.
     Apresento-me para falar sobre algo que grita, e logo lhe servem um copo, pareceu-me cortês aceitá-lo, sem regra de quanto seriam as doses, desde a tenra idade, confundia as vozes.
     Venus as a Boy envolvem-no como se Bjork fosse uma deusa próxima. Deram-lhe um quarto claro e limpo. Já faz anos lhe apresentam não mais os rostos tranqüilos, de repente a preguiça doce e confortável esvaiu-se como um isqueiro lançado num campo de centeio. Seu corpo não responde com graça e riso ao enfado da pergunta que o acorda. Toma um gole de ar, já que as conversas mudam a cada momento o tema, e com profundidade pede ao outro:

     - Você me adiciona que eu te sigo.

     - Sinceramente, não é o que esperava agora.

     E mesmo vendo que afunda numa sinfonia de deserto, acorda.
     Pisa no chão, com o cérebro ainda cheio de estímulos vindos de um lugar escondido, artificial como o calor de calefação. O desequilíbrio não difere de estar sobre uma superfície de embalagens de ovos, não tem mais graça, é cinza e percebe ser o primeiro grito que sonda. Algo o empurra para fora, o espírito chama-nos para um dialogo junto de manchas, no teto das pálpebras. As sombras da mente são desenhos numa tela sem apoio. Uma lírica pagã, de esquerda. Acorda e o muro já era.

     - Apóie-me Deusa, antes que eu caia.

     Ele apóia as costas e esbarrando-se, agacha-se – Suas costas – ele diz. –Sentir o frio delas é mais fácil que chorar. O branco do gesso na pele. O afresco o consome. A parede foi construída na época em que percebeu como cantam os sons. Aqueles que deveriam ajudá-lo berravam mais alto que as cabras na maculada alma.
     Na noite anterior, flores roxas caíam da árvore. Ele esticou os braços esperando que alguma batesse e ficasse ali com ele. Eram como flocos de neve, aquelas frágeis coisas, pois o vento que as fazia soltar não é como a intenção humana. Ela acontece. Ele percebe que passa a imagem de uma morte não findada e prematura. Bateu.

     - Como vou explicar-te...

     Alguém ri e diz – Você é engraçado.

     Pretendia dizer como The Silence of the Lambs era o nome que cabe pelo diálogo entre Judie Foster e Anthony Hopkins. Seria o bom verso que retorna para a trama.
     Tinha a percepção de harmonia nas palavras. Não o sabia dizer, pois o sentido é tênue como uma linha. Soubemos pela notícia. Toca o telefone e parece ser Clarice. Será que perceberiam o que o tornaria ébrio de novo. Seria o bom verso que retorna para a trama.



24 outubro 2010

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

óleo e ovo tempera sobre painel

-inacabado-



Existe qualquer dito
Que não se sabe até quando
A cor verde de uma folha faz parte
Do objeto folha


Existe o dito de até quanto
A sensação é mais colorida
Que a forma


Existe o êxito desse instante
De momento de planta e gente
Não sendo assim o que eu
Queira dizer


Que eu não sei se seu olhar
Pra mim é cor ou objeto
Mas que por algo que sobrou
No meio, gostaria de tentar,
A folha, sendo ela qualquer.

 
 
My Darlingtonia
2008
Madeline von Foerster
 
 
Do início da lírica,



Do ensaio sobre a cor, olhares, gente, a gente? Planta, numa mesa entre amigos.

Americana 20 outubro 2010.


.acantiza.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

retorno eterno, Antonioni- Blow-Up - 2001

http://www.ufscar.br/~cinemais/artfoto.html

A fotografia como informação



Por Augusto Cesar Cavalcanti de Souza











A fotografia é uma das formas artísticas que foi grandemente contestada no que diz respeito ao seu valor de representação. Claramente ela foi de encontro a um meio artístico que não era acostumado a uma forma de reprodução tão concreta. Mas não foram somente as técnicas de reprodução que se viram confrontadas com a fotografia. Em seu ensaio sobre a reprodução mercanica, Walter Benjamin argumenta que a fotografia aprasaria o fim do próprio capitalismo, ao trasformar autencidade de um fato em bem de consumo.

Podemos entender que a fotografia causava impacto na sociedada antes mesmo de ser presenciada, como afirma Geoffrey Batchen (2) freqüentemente citada, mas raramente vista, a fotografia exercia uma presença alucinatória bem antes de sua invenção oficial.

Transpondo tal constatação para os meios de comunicação é correto citar a afirmação de Marchal Mcluhan quando expressa que o "meio é a mensagem, (o meio, ou veículo, é a mensagem)", afirmando que a luz elétrica é informação pura pelo fato de já nos transmitir um pensamento, informação sem ter um conteúdo informativo.

"Isto apenas significa que as conseqüências sociais e pessoais de qualquer meio - ou seja, de qualquer uma das extensões de nós mesmos - constituem o resultado do novo instalão produzidos em nossas vidas por uma nova tecnologia ou extensão de nós mesmos."(3)

A fotografia transforma o tempo em espaço e o espaço em tempo. A colocação foi bem argumentada por Roland Barthes, em Câmera Clara, que notou que a fotografia lhe dava uma idéia de morte, pois na imagem é gravada uma presença no tempo que não existirá mais. A fotografia, diz ele, nos proporciona um "isto será" e um "isto foi", em uma única e mesma representação(4).

Tal argumentação nos leva a entender a questão da unicidade e do valor tradicional de uma obra de arte propostos por Walter Benjamin, quando ele define aura como a aparição única de uma coisa e nos relata que se um objeto, alguma obra em geral, é retirada de seu contexto histórico, a mesma perde seu valor de representação.

"Mesmo na representação mais perfeita, um elemento está ausente: o aqui e agora da obra de arte, sua existência única no lugar em que ela se encontra. É nessa existência única, e somente nela, que se desdobra a historia da arte." (5)

Benjamin também nos lembra, ainda nessa mesma linha de pensamento, que essa desvalorização da aura é agravada pela nossa necessidade irresistível de possuir o objeto, de tão perto quanto possível na imagem, ou antes na sua cópia, na sua reprodução, fazendo com que cada vez mais se busque uma arte feita para ser reproduzida e que é tão trabalhada para que atinja o efeito no consumidor, tornando-se objeto de desejo, admiração ou repudio, que nos leve a um começo de pensamento, daí podermos concluir haver a possibilidades de criarmos uma informação para nós mesmos, mas que se não for novamente representada não será aceita como verdadeira.

Esses ensaios sobre fotografia mostram que, independente do fato de a fotografia ser ou não uma forma segura de comunicação, é seguro dizer que ela causa um impacto social e político na medida que percebemos que seu conteúdo é uma das coisas mais valorizadas em uma sociedade estabilizada na obtenção e consumismo. Nosso desejo se materializa na imagem.

A fotografia representa um momento de vida, de morte, uma paisagem que tinham um significado naquele instante, e fora desse instante não é provável que somente por meio de uma foto se consiga transmitir informação. Tal comunicação se torna possível com uma seqüência de fotos, que é o principio do cinema. A imagem estática, incomunicável tornasse parte de nosso mundo realizando um desejo de que a representação se funde cada vez mais com a obra única e completa, a vida.

O filme "BLOW-UP" representa a vida de um fotógrafo que não consegue se comunicar, e aí entendemos se comunicar como ser compreendido, se relacionar com pessoas e com ele mesmo. A incomunicabilidade é gerada por ele ter se habituado a um meio de comunicação representado por imagens, e ao aceitar a realidade da imagem, dissolve a separação entre real e imaginário, entre a imagem da coisa e a coisa em si.

"O homem não olha mais para um real a partir do qual vai criar determinadas imagens e das quais ele seria o seu referencial primeiro. Agora, o homem olha primeiro as imagens para depois compará-las com algo que ainda possui o nome de "real", mas que não tem mais o mesmo estatuto de realidade que possuía anteriormente". ( 6 )

O filme mostra uma inversão do referencial da realidade indo de encontro a nossa confusa realidade de existência. Tudo passa a existir e a ser verdade somente enquanto imagem. Ainda concluindo essa idéia, Paulo Menezes nos diz que ocorre uma inversão das palavras de Bazin sobre o surgimento da fotografia: "a fotografia se beneficia de uma transferência de realidade da coisa para sua reprodução".

Abaixo serão descritas cenas adaptadas do roteiro original de Michelangelo Antonioni que exemplificam uma forma de entender a fotografia como comunicação. O filme também pode servir de base para a discussão de outras proposições sobre os novos fundamentos da arte mostrados pelos pensadores citados anteriormente.



Seqüência dos mímicos na quadra de tênis



Thomas esta olhando pelo gramado. Os mímicos da seqüência inicial reaparecem em cima de um jipe. Eles param em uma quadra de tênis após dar uma volta em redor da mesma. Dois deles entram na quadra enquanto o resto se transforma em platéia. Agora todos estão em silencio.

Os mímicos que estão na quadra se movimentam e jogam através de gestos como se vissem raquetes e a bola. Seus movimentos são de um jogo real, com saques, disputas de ponto, é tudo muito bem representado. Thomas vai para um dos cantos da quadra e observa tudo aquilo em silêncio.

A câmera se volta para os rostos da platéia, que movimenta suas cabeças de um lado para o outro acompanhando o jogo e os movimentos daquela encenação. Em uma das jogadas, a bola imaginaria é atirada violentamente no alambrado. Todos se protegem assustados.

A câmera segue os movimentos de uma suposta bola pelo ar. Até que em uma jogada errada, a bola ultrapassa o alambrado. A câmera constrói esse movimento e constrói uma imagem que desce e que desliza pela grama até ir parando devagar, nos dando a sensação de não entender mais se existe ou não aquele objeto representado.

Thomas corre até a suposta bola, abaixa-se, pega e a joga duas vezes para cima e a joga de volta para quadra. Agora o movimento da bola é mostrado pelos olhos de Thomas que voltam a olhar para o jogo. Agora nós também ouvimos o barulho da bola que segue de um lado ao outro.

Não há uma revelação visual de que é um jogo, mas nos somos induzidos a pensar pelo movimento da câmera e das personagens, que realmente exista uma bola, raquetes, enfim buscando a realidade da imagem que já é uma realidade que estamos acostumados a aceitar como verdadeira.



Seqüência em que a modelo é fotografada



Thomas entra no estúdio. A modelo nos aparece através de uma imagem. Seu vestido é preto, com duas laterais abertas que deixam a vista toda a lateral nua de seu corpo insinuando-se através dele. O dialogo entre eles é curto e ríspido.

Após ele arrumar a roupa e literalmente analisar a modelo, pede a seu ajudante que coloque alguma musica. A musica é um jazz um tanto sensual. O fotógrafo começa então a tira fotos bem próximo a modelo. Entre as seqüências de fotos toma, um copo de vinho.

A modelo esta agora no chão. As falas do fotógrafo são ordens de como ela deve se comportar. O fotografo esta em volta dela e se mostra mais e mais exitado. Ele puxa seu cabelo para trás. Começa a se aproximar e acariciar o corpo dela. Pede então uma câmera que tem uma lente 50mm com capacidade de aproximar num campo maior o que se vê através dela. A câmera vai permitir uma aproximação melhor entre eles.

Thomas vai descendo sobre seu corpo até ajoelhar-se sobre ela e encaixar-se em seu ventre. Os movimentos do fotógrafo se tornam mais eufóricos. Ele fala coisas próximas ao ouvido dela que sorri insinuante, beija o pescoço dela, mais próximo, a câmera dispara fotos a todo momento como meio de união entre os dois, seus corpos movimentam-se juntos.

No final da sessão, numa representação máxima de exitação, o fotógrafo ajoelhado sobre ela grita eufórico: "Yes,Yes,Yes". O clímax é visual e inquestionável. A modelo continua deitada no chão extasiada com o que acabaram de fazer, passando a mão sobre o seu seio e exausta, está aí a representação visual do orgasmo.

A cena nos mostra uma metáfora de relação sexual mediada por uma câmera fotográfica. È o exemplo máximo da influência da imagem em um ser humano, a possibilidade de juntar a capacidade de penetração do meio fotográfico em realidade física e visual. É uma forma de mostrar a vulnerabilidade humana quanto essa inversão de valores entre realidade e imagem, mostrar a necessidade de obter uma coisa representada cada vez mais próxima, se possível poder toca-la, senti-la, é a necessidade de disfarçar uma vontade de poder criar uma realidade que possa ser controlada individualmente, montada por cada um de nós em que não haja necessidade de comunicação entre pessoas.



terça-feira, 24 de agosto de 2010

de Nova Iorque para Miami


Acervo Pessoal. Purchase © Carybé


 
PIECE 1 OF 9




Para escrever um poema esquece ti da dureza da palavra (aqui
                                              há exímios professores nessa língua).
Como a cor esquece que deu forma ao objeto
Ou da melodia que deixa a música até o silêncio...

Que a letra já pertenceu a algum objeto...
                                  (Esquece ti de fato)
Que a fumaça já foi desenho no ar.

Para escrever um poema
Consultas o teu corpo em descanso
Onde o sonho já foi consciência

(a lógica dos símbolos aqui não vai ajudar-te)

Lembra ti de esquecer ti e como num sonho escrevas em letras de fumaça uma nova ordem lógica para as cores...

Ou como o poeta (agora)
Que deves confirmar em que data o assina.

Ou a erra de propósito
Só para tê-la ao seu poema.


Acantiza
Americana, 24. agosto. 2010.






quarta-feira, 18 de agosto de 2010

do vendedor de vassouras ou algo sobre o tempo..


The Museum of Modern Art, New York. Purchase © Henri Cartier-Bresson - Magnum Photos



       “Spiritual Destiny”- Ivo Perelman – sobre página de Agostina Taruschio:




       Interrompendo o diálogo do vendedor de vassouras
       Que hábil escuta o outro senhor que parece enfadá-lo
       Passa uma doméstica com uma sacola preta.
       As cores de entardecer frio puxam pr`européias.
       A cinza do cigarro cai sobre a folha já não tão cinza.
       Logo duas domésticas mais passam.
       Essas não trazem bolsa alguma.

       Um outro alguém, em roupas gastas, senta-se e me observa
       O homem das vassouras, agora livre, rabisca alguma coisa
       Existe a máquina e faz barulho num apartamento próximo

       Essas tardes de agosto têm cheiro de lugar
       Que nem tanto eu ou aquele que me observa
       Saberia pontuar onde é em exato.

       A pegada da ida, apesar de mostrar-se, já não está no mesmo lugar na volta.


Acantiza.

das 15:35 ás 17:35

Americana(18.08.2010).



   Partitura do exílio.
                                 Augusto Cavalcanti.



   E como lembra o sabiá que canta
   sentindo o cheiro das penas num coco
   sobre tua perna azeda, num bonde num canto.
   Eles se esquecem, daqui ou de lá, mesmo!

   Acorda o cara saudoso, por favor.
   “Senhor, é sua parada” diz alguém.
   Que nosso exílio non tem mais raiz no!

   Se doutro lado da terra soubesse dos teus gostos...
   ...vai sumindo que não sobra nem a saudade e a cor.

   Uma memória líquida se inventa, chame-a glória imediata!
   E sem a memória não existe a saudade no exílio. Não existem padrões de relação.
   Virando a esquina ou noutra terra vive alguém. Ali na casa do moinho.
   Não faz referência à coisa alguma, mesmo!

   Esse romantismo saudosista me enoja.
   E nos faz esquecer do gosto limpo de ti, das coisas,
   Do bonde, do elixir do que escorrega e nunca foi.

   (junho 2009).

domingo, 1 de agosto de 2010

teatro do amor líquido

TEATRO DO AMOR LÍQUIDO




Uma peça ousada com uma narrativa de raro fôlego!

Uma mistura de vozes concebida nas asas da cannabis sativa!

...“É um espetáculo de vapor”!

O fim é o não clímax de Valéry!

... “Improvável como se querer saber em que escala de energia se encontra o elétron dentro de um átomo. Disse Nerlo na sala” !

Merde!

Ele consegue compor um adorável blues em pedra!

“Chamou-a “dança dos espíritos””.



 

PERSONAGENS



Nerlo Nun

Atrícia

Espírito que narra Nun

Espíritos da Dança

Sobral

Cliente de Atrícia

Uandra





PROJETO EDITORIAL:


Capa Branca

Só. Sem escrito algum, apologia ao White Álbum e ao enredo.


ESCRITO na orelha, marcador de páginas:

Não diria que é das funções mais fáceis escrever sobre o trabalho de um autor novo. E no caso, para o não azar de ambos, o conheço pessoalmente.

Eventualmente lhe falei que Acantiza era um nome bem estranho. Tive como retorno: “é a melodia sonora do meu nome” Augusto Cavalcanti de Souza, “o César é o espírito santo”.  Assim se vão, desd`essa inusitada resposta, nove anos de simpática amizade.
Teatro do Amor Líquido é um livro raro, que sobrevive a deletação e que tem inicio em 2004, provavelmente abril. Não seria presunção dizer que essa edição traz algo que não levou mais que um mês para ser redigido.

Da busca do autor pela voz poética pura forma-se um estilista sui generis. A voz forte sufoca o aprofundamento das personagens centrais, mas da tom fino pr`esse retrato: a descaracterização de uma época, o seu romance de formação.

Tenha em mente: essa narrativa é uma peça para espíritos livres, envoltos num cenário meticulosamente desenhado para caber nossas “sombras”:
vazio demasiado vazio.

Numa época de instituições falidas de valores, Nerlo e Atrícia representam o que o amor pós-moderno nos deixou: o vazio.

O quê o autor dessa época profunda e perturbadora deixa para mim: po gutão, isso não tem fim não! vatene a merda! Ao que é retrucado com a habitual calma dos monges:

“Eu vou, mas com amor” e música!

Na platéia surge a expressão do médico de Van.


Meu conselho: uma obra para ser lida e relida.



CONTRACAPA

Nerlo Nun está preso no amor.

... Foi desse modo que as almas combinaram no céu descartando a previdência.

Enganar o tempo e o espaço...


Retiro-me para escutá-lo conversar com seu cachorro.
Ele está extremamente chapado enquanto assopra a fumaça de seu baseado para dentro do pote de ração do animal.
Existe sinceridade em sua dor.
Há bondades nos seus pequenos gestos.
E há sabedoria em seus erros.
Ele mastigou uma ração do seu cachorro.


Deus é um terapeuta sem honorários.

Se pensar em termos existenciais, o amor é tão vago quanto a idéia que fazemos de Deus

... A memória vaga pelo labirinto que é o conhecimento e nossa idéia subjetiva de mundo constrói as paredes desse mesmo labirinto.

Julguem-se a si mesmos que já é um bom começo para analisar qualquer coisa na vida...

A terrível grandeza perturbadora da verdade.
E só.







PRÓLOGO






Sabe o que mais gosto na teoria da relatividade?

O que eu desconheço dela.

Sabe o que mais gosto sobre a ciência da mente?

A concretitude de seu infinito desconhecido por essência do ser.

Sabe o que mais gosto da Arte?

O mistério que faz validar uma beleza inexistente; vaga do nascer ao poente.

Sabe o que mais gosto da Matemática?

Seu infinito exato.



Então, depois de reler isso que escrevi, vejo que o que me atrai em viver é saber o desconhecido.

O inconformismo me torna meio loco e meio sábio. Não sei ao certo onde está a divisa.



É sobre isso que vou falar em meu livro. Sobre o que desconheço em mim.



E eu não queria ter transpassado essa barreira entre o ser desconhecido e o ser á conhecer antes de deixar aqui meu relato. Essa passagem, o conhecer, certamente tornaria o desconhecer banal que de tão banal não viraria essa obra que me dedico em escrever.

Sabe sobre o que é o meu livro?

Sobre o amor...



Mas não é uma narrativa melosa e romântica. Quem eu procuro não é melosa e romântica, assim como eu não sou.

Quem eu procuro deve existir no meu tempo e isso não me faz útil escrever frases de amor descabido e desesperado, de restringir esse sentimento mútuo em única verdade existente no mundo.

Quem eu procuro conhece o sexo, quem eu procuro sabe que sexo sem amor se torna banalidade; mercadoria, E sem críticas ao que somos, se eu digo isso é porque compreendi essa diferença, e para se compreender essa diferença, ou se provou ou se nasce provado.



Se nasce com um peso trazido de outro tempo que não o nosso atual.

Nós, eu e ela, vivemos e não encontramos o amor no banal amor de nossos dias.



Sabe o que gosto no amor?

Gosto do que desconheço da pessoa a qual eu amo.

Gosto do medo;

gosto de não ser só eu...

quem desconhece.

Sabe o que mais gosto em terem feito do sentimento mercadoria?

Posso vender os meus.



N.N



**



Existe um vazio entre as coisas.

Um vazio que se enche quando você percebe que esse vazio somente era uma incapacidade sua de enxergar o que não se vê por trás de tudo que existe para ser visto.

Os vazios de antigamente nos são tão comuns que se tornaram vazios.

Não penso a eletricidade. Ligo a luz.

E da luz se fez todo nosso mundo apagando-se as sombras.

E agora as sombras voltam para nos fazer sentir nossas falhas.

Eu estou aqui.

Sou a dor do que não se vê.

Ate que a luz ilumine-a ao meu lado não me faço calado.

Vou procurá-la por tudo que os anjos não me fazem entender.

Vou até o ultimo no meu ser.

Pois a amo.

Nerlo Nun.

Eu posso assistir ao mundo sem ser notado. Um mundo maior do que você possa imaginar e por isso estou tentando compreendê-lo em mim para talvez trazê-lo até seu mundo. Mas isso é um assunto que vai se encompridar por demais para eu ir logo o simplificando por aqui. Vou utilizar sua limitação para exemplificar o que sou. E como estou me tornando esperto, vou usar um exemplo que certamente possa os instigar. Veja você, se eu quisesse seguir essa bela mulher que passou pela minha frente na calçada da rua para vê-la tomar seu banho da tarde, entender todos os seus desejos e ouvi-los para depois sussurrar em seu ouvido tudo o que ela gostaria de ouvir, eu poderia fazer. Bem como, qualquer mulher que fosse como eu poderia conhecer por inteiro um, digamos, galã do momento, desses que aparecem no cinema, que foi parte total de suas fantasias eróticas enquanto transava com seu marido desleixado.

Só que os meus sentidos não são mais os mesmos que já tive. Não adiantaria segui-la para realizar todas as perversões que ainda trago comigo. Estou livre e preso naquilo que preciso fazer para não ser sempre um nada nesse universo bem estruturado que já é um mundo perfeito, mas bem distante desse nosso.

Eu sou vapor; energia; onda. Nada mais que você sem perceber.



Sou o que somos mais o que nos esquecemos de ser por trás de nossas pretensões banais de mundo. Saiba que todos vocês são um pouco como eu. Energia; onda e imaterialidade. Não sei explicar direito, pois se estou aqui é porque não sou perfeito para poder ser claramente compreendido e vejo que se fosse perfeito não deixaria que compreendessem muito do que não podem saber pelos meios que tenho como fazer ser notado. Não me seria permitido deixá-los saber.

Tudo está preso em um sistema de coisas que não podem ser bruscamente mudadas. Existem regras. Tanto aqui como aí. Sinto-me perdido como fui em vida. E isso, agora, não faz sentido. Tentei ser o melhor que pude suportar em meus vícios. Poderia justificar meus erros por minhas incapacidades intelectuais e morais e pelo mal que me foi viver. Mas eu disse, isso tudo já não faz sentido algum em mim. E ficar me justificando somente me atrasaria a tornar-me melhor. Eu quero ser um dos grandes, um dos sábios, todos aqueles que amam e que sofrem.

Que enxergam alem do que se é visto.



Em todas as dores que se é ser como eles, sei que as alegrias futuras compensam.

De cada pequeno instante pode se fazer crescer. Eu faço uma pequena análise do meu passado para ser mais generoso em meu presente e planejar meu futuro. Só que não posso prever que as coisas sejam como pretendia que fossem. Eu aposto um caminho e vou desde a ignorância rudimentar tentando transpassar minhas limitações para tornar-me mais humano no final da caverna.

Assim é a vida. E eu fui pequeno na minha.



Mas eu pude compreender algumas falhas nesse sistema determinado. Até mesmo nessas falhas se faz presente uma limitação, mas decidi que seria com elas que, talvez, eu pudesse me evoluir como ser.

Eu decidi acompanhar uma dessas falhas em sua vida para entender como se dão esses milagres na existência.

Não sou bem vindo onde estou porque não faço parte da família desses seres superiores. Eles me olham com desdém, me ignoram completamente e somente por manter-me afastado e imóvel, somente por ficar observando a existência se fazer em um gênio, me permitiram ficar ao seu lado.



Eu resolvi que estaria presente na vida de Nerlo Nun.



Não foi uma escolha aleatória tê-lo encontrado e minhas limitações não me fazem pior para narrar ao que vejo e saiba que quando eu disser, quando eu estiver narrando aos fatos que aqui se escreve, se trata de uma entidade que simpatiza de muitos sentimentos análogos ao dessa pessoa.

Nerlo ainda não é um bom gênio, um sábio incontestável, e nem poderia sê-lo, pois caso fosse, estaria longe daqui. Mas são muitos fatos de sua existência e de sua personalidade humana que me fizeram querer acompanhá-lo.



Primeiro eu gostaria de dizer que meus relatos sobre a vida desse homem serão privados de todas as suas verdades, das verdades dos pensamentos dele, pois eu não tive permissão para sabê-lo ao todo. Eu não tive o privilégio de segui-lo desde sua infância, meu interesse por sua vida começou por ver as nobres almas que se faziam presentes ao seu redor. Isso deve ter ocorrido quando ele contava com uns dezenove anos. E até então tenho tentado entender porque se faz uma vida cercada de tantos anjos bons enquanto outras são estorvadas pelos baixos e decaídos.

Sinceramente, às vezes, duvidei e ainda duvido da justiça que se possa haver nessas escolhas. O que vejo em Nerlo é alguém com muitas falhas, alguém que se perde em suas dores e que nem sempre é justo no que faz. Contradizendo-me, muitas vezes o vejo pensando em sentimentos tão belos. Acredito que sempre há um certo querer altruísta naquilo que ele que para ele mesmo. Suas maiores belezas são encobertas por uma certa arrogância que me são como uma proteção própria para não ser totalmente como nós. Sim, ele se nega por se achar fora disso tudo, por se ver fora do seu mundo, e o certo é que ele esta bem mais próximo do que agora eu vejo como realidade e que em vida nem sonhava existir.



Ele sente as sombras.

Pode percebê-las e é por isso que os bons anjos estão com ele.

Eles mantêm uma reunião grande para realizar algo que eu não compreendo.



E além de todo o meu aprender com esse homem, aprendi a ter um certo prazer em vê-lo viver. Acredito que estar aqui não tem me atrasado naquilo que eu mesmo preciso fazer para seguir à nem sei onde, para ser quem sou em algum lugar qualquer.

Nerlo me diverte com seus surtos depressivos seguidos de momentos de extrema alegria pelo nada, somente pelo que pensa. Muito me tem sido revelado naquilo que ele escreve em seu livro de agora. O livro que se tornou um resumo de seu sentir até o momento. O livro que me parece sua verdade única e incompreendida. Um relato de suas alucinações, de seus limites; erros e acertos.

Existe uma particularidade impressionante em sua vida. Ele também é limitado em seu compreender do nosso mundo, mesmo com tudo que já lhe foi dado sentir sobre nós. Vejo isso como uma certa ingratidão, ou um castigo que só eles, Nerlo e os anjos, podem saber por se tratar de um assunto referente ao que fizeram em algum outro tempo.



Mas há respeito. Respeito pelo nada.

Nerlo é orgulhoso, mas é humilde. Sua alma é repleta de ambigüidades pois existe uma mistura entre o meu mundo e o dele. O que nós somos não se enquadra naquilo que os seres humanos em sua grande maioria são. Existe uma guerra muito grande entre os desejos do corpo e da alma.

É a essa guerra que eu tenho assistido desde que estou aqui. E isso tem me feito melhor, porque se não, não me seria permitido estar.

Eu não aprendi na vida, e agora tenho a oportunidade de tentar sendo essa energia estranha que sou e não sei até quando devo ser.



Acredito em algo nisso tudo que vejo.

Nerlo fez algo de estrema coragem e ousadia.

Um acordo entre os mundos.



Mas ele tem sofrido por isso. Sofrido pela limitação que existe entre esses universos. Existem regras que devem ser mantidas e eu creio que ele desrespeitou uma dessas regras. Com certeza ele é uma entidade muito maior do que eu sou e isso quer dizer que Nerlo está muito mais próximo de uma perfeição no saber em sua totalidade.

Só não sabe e nem eu sei o porquê de tanta ambigüidade onde somente devesse haver bons caminhos se si pensa nos anjos que dele se servem. Sim, existe um proveito de ambas as partes. Eles se auto negam, se criticam, entretanto permanecem juntos.



Nerlo é um anjo na Terra e seus grandes guias estão do lado de cá.

Só que eles brigaram.



Nerlo sente algo próprio que não é providencial para evolução de todos. Algo que lhe separa daquilo que ele deveria fazer. Algo que não o deixa ser total.

Nerlo sente amor.

Nerlo Nun está preso no amor. E esta foi sua falta com os anjos.

o amor não se faz se não se tem a outra parte o amor unido entre idéias de milhares de anos o amor não é sexo sexo se faz sozinho o amor é dois e é aqui que se faz sentir a guerra de Nerlo entre os mundos é onde eles se ferem e se fazem notar fortes em ambos os extremos em um sentimento necessário para que os anjos o façam mover um sentimento de falta e vazio enquanto não se sente enquanto não se encontra



A punição, se assim posso dizer, para Nerlo?

Ele nunca conseguiu ser dois em Terra.



Não me foi dado saber e creio que se fosse como eles, como essas almas evoluídas, eu saberia onde está a metade que Nerlo procura.

É aqui que entra o que disse me instigar em acompanhar esse homem.

Como ele, não me foi dado saber onde ela está.



Mas sei que Nerlo sente e sabe mais que eu. Em toda sua alucinação, creio haver a verdade. Talvez ele esteja certo. E eu quero saber se está.

Tenho quase certeza que foi esse o acordo que ele travou em meu mundo ou em qualquer outro.

Ele não fez um acordo com os anjos.

Fez um acordo com aquela que ele amava.

E agora está perdido porque o nosso saber some quando se está vivo.

Não por completo. E Nerlo sabe, ou, pressente.



Foi desse modo que as almas combinaram no céu descartando a previdência.

Enganar o tempo e o espaço.

Tarefa para um gênio. E até mesmo um gênio não sabe dela compreender.

Seu único aliado são seus sonhos.

Ele os tenta controlar e guardar na memória pois são nos sonhos que ele compreende enxergá-la.

É provável que eles se vejam nos sonhos, mais nem sabem como disso aproveitar.



eles estão presos no tempo separados em matéria vagando no espaço afastados pelo desconhecer se si restringe o conhecer pelos nossos sentidos humano mas unidos pelo que sentem sem saber em suas humildes almas apaixonadas



Talvez ambos estejam no mesmo espaço, talvez não, e se estiverem, não é nada além de um fato que alimenta a vontade do encontro.

Pense um espaço, multiplique esse espaço por sua idéia de universo e então talvez você entenda sobre a grandeza do que quero propor.



No tempo em que não se encontram No espaço em que não existem São eles os dois amantes que enfrentam as grandezas metafísicas por um sentir próprio: Amor.



Você crê que o mundo é somente isso tudo que você enxerga em volta.

Mente pretensiosa e pequena.

Ele é um universo muito maior daquele que lhe foi permitido conhecer.



Eu sei disso. E agora me revolto em vão por não ter sido mais sábio em meu tempo de vida. Estou sozinho onde estou e vejo beleza em estar só. Vejo-me aprendendo com um pequeno milagre que poderia ter aberto meus olhos enquanto me perdia em minha ganância por dinheiro, por poder, por mulheres. Cegavam-me minhas perversões, meus falsos prazeres que agora não me valem nada. Não vou pensar nisso agora. Não me levaria a saber mais do que fui.



Eu tenho aprendido com um milagre. Tenho aprendido com Nerlo Nun.



Retiro-me para escutá-lo conversar com seu cachorro.

Ele está extremamente chapado enquanto assopra a fumaça de seu baseado para dentro do pote de ração do animal.



Existe sinceridade em sua dor.

Há bondades nos seus pequenos gestos.

E há sabedoria em seus erros.

Ele mastigou uma ração do seu cachorro.



**





Um mundo onde os sonhos são o mundo. Onde cada movimento tem sua função no todo. Onde tudo tem causa e efeito e não há livre arbítrio pessoal capaz de desviá-lo dessa estrutura pré-disposta por uma força maior. Onde o tempo não existe pois a grandeza do momento é maior que qualquer encontro que se possa se precaver com as horas que o antecedem. As dimensões imagináveis desse mundo são tão gigantescas que não se pode pensar o momento. Se vê ao longe. Como pode se chorar a perda quando se espera que tudo tenha uma finalidade determinada por uma sabedoria que de tão perfeita é incontestável. E mesmo assim ela vaga como uma dúvida. É uma crença gerada pela dúvida e que nos livra de nos sentirmos abandonados na vida. Um mundo de conformismo. É como se agora eu visse quantos “se” eu expus nessa sentença e não me importasse porque eu somente pretendo ser compreendido nesse instante da minha narrativa. Eu desconheço minha compreensão sobre o que escrevo.



Esse era o discurso que Nerlo Nun acabara de elaborar para transpor seu desconhecimento sobre Deus e que acabara por perder-se em uma certa insegurança pessoal em relação a estrutura gramatical de seu artigo.

Era o que estava digitado na tela de seu computador.

Ele quase não consegue ler as letras de tão intoxicado que estava, mas continuou pensando sobre o que estava propondo para sua coluna de jornal.

Belo é o pensamento que não pode ser barrado por qualquer entorpecente, entretanto, ele se perde dentro de você se tornando inútil. Veja Nun, que não tem a mínima coordenação de seus atos para digitar mais nenhuma palavra sabendo que o tema lhe era de conhecimento, mais que conhecimento, lhe era de interesse e tudo que poderia ser dito por ele seria aproveitado por alguém mais no mundo.



A comunicação é poder.

E Nun agora divaga por dentro de seu saber calado e inexpressivo.



Penso se é certo ou entendível dizer desconhecimento, mas penso agora que essa necessidade só é instigada por um desconhecer. Não me lembro da primeira vez que pensei em Deus, mas certamente ele deve ter sido inspirado em mim por um desconhecer. Eu desconheço se minha mão estará ao meu lado no dia seguinte. Peço a algo uma ajuda. Eu desconheço se o primeiro dia na escola será interessante. Falo com as sombras do meu quarto no dia anterior. Eu desconheço se aquela moça me ama. Peço um conselho.

Deus é um terapeuta sem honorários.

Mas não é só da falta que se conhece essa extrema grandeza.

Penso o universo. Penso como as coisas são perfeitas em sua natureza pura. Como a espiral se faz presente em cada átomo que forma um corpo. Penso nas descobertas. Penso no que sinto enquanto penso sentir. E sei então que todas as coisas não são por somente serem. Onde a perfeição se faz presente em cada mover do vento, em cada gota de orvalho, em cada dor e em cada alegria e, sem dúvida, no amor.

Por quê as pessoas devem ser boas? E entende-se que na Terra o bom é muito variável para se fazer uma apologia em uma frase. O que é bom para mim é inaceitável em um outro país qualquer ou na educação que é instruída por outros pais qualqueres aos seus filhos numa mesa de jantar nessa casa com muro verde engraçado ali na esquina.

Acho que as pessoas deviam relativar sua bondade pelo amor que sentem, mas então penso que até mesmo o amor é relativo, e talvez o meu não tenha nada de especial em relação aos outros amores que vagam em cada momento desse infinito escuro que é a vida.



Meu amor de tão falso não cabe no mundo.

Talvez não seja falso, ele é exagerado.

Amo a simplicidade das coisas em sua essência existencial.

E sem dúvida é um amor tão grande que me faz vagar entre a necessidade que se é o sexo e a futilidade bela que se é amar.

Se pensar em termos existenciais, o amor é tão vago quanto a idéia que fazemos de Deus.

As necessidades mais belas da minha vida são vagas.

Vagas como os sentimentos que vagam em meu peito.

Uma crença. Uma crença que te faz melhor. E só.

Mas eu garanto, é bom ser bom.

E julgue a bondade como quiser, porque você sabe quando é hipócrita em seu servir, em suas caridades, em suas belas palavras de apoio, em seus sentimentos e em seu mal por trás desse véu de pessoa que atua no mundo. Sim, você sabe.

E mais que nós mesmos, eu garanto que as sombras sabem e elas podem nos punir nos meios mais incertos possíveis. Não estamos sozinhos naquilo que chamamos de mundo.

Só não vemos por completo.

Não ria das minhas alucinações, pois se fizer, posso rir daquilo que você chama de Deus, e me matar com aquilo que chamo de amor.

È só um nome.

É o que se sente que se vale.

Seja sincero no sentir e seja bom.





Nerlo se levantou e quase não chega a tempo de vomitar todo o álcool que havia ingerido naquela madrugada de céu aberto.

Naquela noite milhares de pedras se queimaram na atmosfera nesse exato instante, maravilhando vinte e uma pessoas que observaram seu brilho em algum lugar da Terra que se é noite, somente porque o dia tem o poder de encobrir o brilho e o segredo do céu.

A luz é uma massa que se propaga como um vírus, mais eficiente que qualquer um deles que vagam pelo ar. Ela segue até pegar um corpo para somente reproduzir. Basicamente como se faz na vida em qualquer situação que o desejo encubra qualquer consciência.

Essa estrela cadente, uma metáfora ridícula para ciência, mas bela no sentido do substantivo, foi vista, dentre as vinte e uma pessoas, por um homem que irá descobrir algo muito importante para o desenvolvimento da humanidade, por uma mulher que terá um filho daqui uns doze meses e que está quase atingindo o orgasmo enquanto seu companheiro está por sobre sue corpo e ela enxerga o céu pelo teto vazado da barraca, e por um estuprador que acabou de atacar uma jovem e olhou para cima enquanto jogava sua luva preta em um lixo de supermercado.



E Nerlo nem pensa em ver o céu porque está quase se desfazendo para dentro de seu vazo sanitário. Fico imaginando como as pessoas podem ser belas até mesmo em sua decadência. Elas mantém suas verdades e mantém as verdades maiores do mundo. Veja esse homem em sua procura de ser alguém, ou do seu alguém, emitindo palavras entre tossidos (“onde está você, onde está você”) com a força descomunal que o desespero dá aos fatos enquanto põe todos os restos podres dos empecilhos que são os órgãos de nosso organismo deteriorado para fora de si mesmo.



**





Atrícia havia acabado de sair do banho. A água ainda se fazia em vapor enquanto ela passava algum creme em suas pernas, depois no ventre e depois nos seus seios. Ela sentiu o efeito refrescante que aquele produto causava em seu corpo e ficou imaginando como deveria aquilo se dar. Imaginou os elementos químicos se dividirem em moléculas cada vez menores desfazendo-se nas primeiras camadas de sua pele e irem se multiplicando e se espalhando por dentro de suas células. Veio em sua idéia uma animação que ela assistira nesses dias recentes em um programa de ciências médicas. Era representado como a hemoglobina entra em contato com as moléculas de ferro. Aquilo lhe parecia agora muito bonito. E ela sorriu por perder-se em um pequeno fato que agora lhe era acrescido por uma boa memória de algo que lhe havia atraído a atenção. A memória vaga pelo labirinto que é o conhecimento e nossa idéia subjetiva de mundo constrói as paredes desse mesmo labirinto. Tão belo é o pensamento com seus segredos e era isso que percebia Atrícia, já em frente ao espelho, para começar a se maquiar. Ela não conseguiu ver seu rosto pois as gotas de vapor defasavam a luz impedindo que ela fosse refletida. Atrícia apanhou uma toalha de rosto que estava sobre o balcão da pia, entre alguns perfumes, três ou quatro batons e a calcinha preta que ela havia tirado antes do banho. Ela então limpou o vapor que se encontrava no vidro criando uma moldura e se lembrou de quando usava o espelho como um diário, escrevendo o nome do garoto que gostava na infância. Você escreve o nome e ele desaparece, você sopra e as letras reaparecem. Atrícia começou a lembrar quantas vezes havia se apaixonado. Essa lembrança do espelho devia ser de uns nove anos, dez anos de idade, mas antes disso já haviam tido alguns outros príncipes em seus sonhos infantis. Ela lembrou vagamente dessas visões de fantasia que restavam perdidas em algum lugar de sua alma e não soube formar nenhum rosto ou nome antes do Rôfel. Esse era o nome do garoto do espelho que foi seu primeiro vexame e ela riu agora do seu rosto ainda molhado ao lembrar seu irmão descobrindo o nome de seu amigo no espelho e espalhando para todos os colegas de rua o que somente ela e duas amigas conversavam. Ela ficou dois dias sem sair do quarto cortando um short do irmão e descrevendo no caderno como iria matá-lo. Então sua mãe veio e lhe falou que não era vergonha nenhuma gostar de alguém e que isso era muito bonito mas que talvez fosse cedo para um namoro mais sério e que talvez o garoto não fosse gostar dela o que era um azar muito grande para ele. Dessa última parte ela se lembrou bem. Achou aquilo tudo muito engraçado e se desmereceu, balançando a cabeça em um gesto de repreensão de si mesma por viajar tanto em um simples se arrumar para sair. E enquanto passava um batom de tom marrom bem suave ela pensou em seu primeiro namorado, ou o primeiro cara com quem havia transado. Ela foi apaixonada por um menino uns dois anos mais velho e já havia tido alguns pequenos casos, como ela chamava, e nunca foi de viajar muito quando realmente queria alguém e decidiu que ia ter o cara. Não seria muito trabalhoso por que Atrícia já estava bem bonita, com corpo e jeito de mulher, vontade e sabedoria de mulher, em seus dezesseis anos de idade. Ela o encontrou em uma festa, saíram uma três vezes e na quarta ela foi até a casa dele. Então ela deixou ele alisar seu corpo, um beijo rápido em seus seios, ele foi logo subindo as mãos por entre seu vestido e apertando estranhamente sua vagina, lhe deu um beijo áspero na boca enquanto se ajeitava por entre suas pernas, tirou, sem ver, a calcinha que ela tanto escolhera e que havia comprado na véspera e transou com ela. Eles se viram mais umas duas vezes. Em uma delas ela tentou ter uma transa mais parecida com seus sonhos, parecido com seu encanto pelo rapaiz, tentou conhecer o corpo dele, seu pau, ela pensa agora em pau, mas naquele tempo nem pensava imaginar a palavra em seu vocabulário, mas não deu certo. Foi tudo muito artificial e ela compreendeu que o sentimento de estar-se apaixonada é uma dádiva, mas o sexo é uma arte. Atrícia passou alguns anos sozinha. Beijava algum garoto quando sentia vontade ou quando ele insistia muito, e se divertia muito enquanto se masturbava embaixo do seu lençol e no chuveiro. Ela sabia do poder que o orgasmo tinha em seu sentir e tinha medo que homem algum pudesse fazer ela sentir o que sentia se alisando. Estando em uma festa de carnaval, na praia, já havendo recusado vários pretendentes que chegavam para lhe dizer frases melosas ou estúpidas em seu ouvido e estando quase desmaiada por baforar três vezes seguidas um tubo de lança perfume universitário e dito para sua amiga que não era problema algum que fosse embora com um garoto que tinha uma toca e um cabelo rasta muito engraçado e seguindo em direção ao banheiro pela quarta vez, Atrícia foi parada por um cara que lhe falou com sotaque interessante na fila do banheiro que ia esperar ela voltar de lá porque já havia esperado a festa inteira e não queria perdê-la para privada alguma desse mundo, de modo que se ela passasse mal ele iria buscá-la lá dentro. Ela sorriu, entrou, limpou a borda do banheiro com o papel higiênico que tirou da sua bolsa, demorou mais que o necessário para arrumar seu cabelo e ao sair ele ainda estava lá. Foi assim que ela conheceu um turista italiano que lhe disse quanto ela queria para passar aquela noite com ele. Ela não soube direito porque, talvez o cara fosse bonito, talvez o poder que ela exercia sobre ele, talvez ela estar cansada de não saber como encontrar seu amor perfeito, talvez a única diferença entre ele e outro fosse a exatidão, ou o adiamento do acordo que poderia vir a firmar de outros modos mais cavalheiros; românticos e menos pré-concebidos e materialistas. Atrícia respondeu que gostaria de jantar no melhor restaurante da cidade e dormir no melhor quarto de hotel que ele pudesse arrumar. Foi o segundo homem da sua vida. E ela pode conhecer cada parte do corpo dele que desejasse e ele fez ela sentir partes do seu que ela ainda não conhecesse. Foi exato e foi bom. O turista foi um dos homens mais carinhoso que ela havia conhecido e é claro que poderia ter sido diferente e ela ter destruído sua vida, mas a vida é irônica. Atrícia descobrira como explorar o desejo sem ser só e, também, sua profissão. Ela estava com dezenove anos na época e agora passava um creme muito cheiroso em seus longos cabelos claros enquanto se vestia para encontrar um empresário que ligou e deixou algumas mensagens em sua caixa de e-mails para que ela o acompanhasse até um coquetel e depois fizesse um programa com ele. Atrícia estava tremendamente sedutora.

No espelho, depois que o vapor já ia sumindo, podia-se ler uma palavra impressa há pouco pelo dedo indicador da mão direita dela: boba.





**





Nesses dias interessantes em que a neblina parece trazer um pouco do céu para as ruas, pude entender um pouco daquilo que pretende Nun escrevendo seu livro.

Seu livro é uma mensagem.

Todos os teóricos de comunicação me matariam por tamanha obviedade em minha sentença. Mas o que eu digo é que seu livro é um diálogo entre duas fontes únicas, por mais que outros o leiam.

Para o autor só há um destino. E nós não fazemos parte dele.

Ele escreve para alguém. Ele o escreve para ela.

Sua obra vai se espalhar e o único meio dessa comunicação se fazer eficiente é a compreensão exata de uma única pessoa. Seu autor sabe para quem fala. Ele presume em sua vaga imaginação que se tornou uma realidade antes de se fazer real nessa vida.

Ele presume que sua amada o lerá.

É vaga a beleza da admirável pretensão por trás de cada página que ele digita.

Se a arte é um entender subjetivo, se a expressão do sentir só se dá por quem se vê, e isso tudo é realidade que não compensa ser discutida, Nerlo é um autor objetivo. Estou certo que se ele não tivesse essa pequena alucinação, se houvesse realmente esse alguém ao seu lado, seu livro não existiria.

Seu livro não se faria porque ele somente deve ser feito em forma de livro para que possa ser aceito como tal e distribuído pelo mundo.

Seu livro não se faria pois todas essas palavras que ele digita seriam substituídas por uma única frase destinada à uma pessoa deitada ao seu lado na cama. Sou um pouco pretensioso em tentar resumi-lo por meu próprio conhecer de Nerlo, mas digo que seu livro seria bem próximo e equivalente, no entender de seu autor, a uma frase como: “você é tudo o que me interessa” ou “o que seria da minha vida se não te encontrasse” ou o mais direto e romântico “eu te amo mais que tudo nesse mundo”.



Sim, a mensagem seria resumida e o livro bem diferente.

Graças ao desencontro e a ironia dos tempos, nós teremos essa obra.



O certo é que ele está sendo escrito.

Tudo traçado pelas forças incertas que nos dá a esperança.

Seu livro será uma garrafa vagando pelo oceano de mentes humanas e a única ilha que lhe interessa achar é a que esteja sua alma perfeita.

As correntes que regem esse mar podem seguir para qualquer lado.

Suas tempestades são medonhas. Suas ondas são incertas e as marés se fazem sentir em cada esquina de rua.

Onde há alguém há um oceano de descobertas.

Sozinho, Nerlo é só mais um naufrago. Seu livro é uma caravela.

Estava claro o quanto ele era objetivamente escrito para que ela lê-se. Cada letra digitada pelas mãos de Nun é feita somente para que ela saiba que ele existe.



O livro é abrir na memória da única alma que lhe importa todos os quadros que eles já foram em outro mundo. É fazer com que ela os enxergue sem névoa, da mesma forma que o calor fará com as ruas dessa cidade, nessa manhã, dissipando a neblina pelo ar.



Nerlo está traindo o acaso.

O que lhe dói ao terminar cada frase trabalhada com mais sentimento que perfeição: a técnica não é nada sem o sentir se se pretende que alguém sinta, isso deve ter sido dito por ele, mas o que lhe tortura é saber a força da outra ponta da corda.

Nerlo não pretende ser inimigo do acaso.

Precisa dele e sabe disso.

Acredito que exista um respeito múltiplo. Ele pelo vento, o vento por ele.

O tempo e o espaço precisam de ambos.

Isso é certo e minha única justificativa é esta: caso não fosse não seria como é.



E o que é?

Somente a união entre os mundos que se faz presente nesse homem.

É uma peça que só pode ser assistida por parte da platéia. O público é limitado e eu também faço parte dessa limitação. Acredito que até mesmo os protagonistas fazem. É um espetáculo de vapor.



- Improvável como se querer saber em que escala de energia se encontra o elétron dentro de um átomo. Disse Nerlo na sala.



Vou descrever uma das cenas que mais me deu prazer em fazer, de certo modo, parte disso que venho narrando. De ver o outro lado da peça.

Uma cena que mostra a perfeita e delicada união que há entre esses anjos.

Foi nun desses tempos em que Nerlo havia descoberto o caminho que lhe era a escrita. As letras lhe são seus sonhos materializados em palavras. Ele conversa com sua alma liberta enquanto escreve.

Vejo sua alma vagar enquanto ele luta tentando se inspirar.

Ela vaga, percorre mundos estranhos e volta para sussurrar em seu ouvido palavras de sabedoria e amor. Vejo que sua alma não é menos controversa que ele. Ela é mais livre e portanto tem mais meios para entender o que se é preciso fazer. E sem dúvida as vontades de Nerlo na Terra estão em segundo plano quanto à grandeza de sua alma.

Ás vezes, sentem raiva mutua entre eles por não estarem sempre de acordo com o que tentam ser. O corpo é a batalha entre eles. O corpo os prende como são. O corpo é necessário.

Ambos o degradam.

Nerlo Nun havia fumado uns três baseados naquela tarde. Estava feliz. E isso não tem nada ver com o entorpecente. Vejo pela Terra o mal se fazer presente em capa de ovelha e o bem reinar onde se enxerga desgraça. Vejo a droga destruir, vejo a droga salvar. Não é disso que eu quero falar.

Nun estava feliz por ter descoberto o caminho. Talvez seu livro. Talvez um caminho para compreender os anjos. Sentir sua alma. Era um momento de luz e eu pude ver tudo em volta brilhar.

Foi então que ele convocou os bons anjos. Começou chamar todos que gostaria que estivessem presentes. Seus parentes em Terra. Seus mestres nos livros. Todos os gênios que foi lembrando e que pode conhecer em música, poesias e criações descobertas pelos cientistas e, então, começou a dançar.

Chamou-a “dança dos espíritos”.

E enquanto dançava em uma alegria exorbitante, dando voltas ao redor de sua mesa, no centro de seu quarto, ia satirizando o sarro que essas belas almas estariam tirando dele enquanto se divertia com nada além disso tudo.

E ocorreu algo maravilhoso. Ele disse que não era somente de sabedoria e de grandeza moral que se podia aprender a sentir a vida. Ele os disse que ainda continuariam a ser grandes almas mesmo dançando com ele por mais besta que isso parecesse.

Ele queria contagiar aquele momento de alegria por entre os mundos.



E então eles dançaram.

E eu também dancei.

Por um instante estive entre os maiores.

Compreendi porque era necessário me esforçar para ser como um deles.

Compreendi o que é a liberdade por trás dessa surreal e aparente loucura.



Senti amor pelo nada.

Senti amor por mim mesmo.

Senti amor por todos.



O tempo e o espaço não mais existiam.



Nerlo sentou-se no tapete. Todos eles se foram. E eu tive inveja.

Sim, eu os invejei por serem o que eu demoraria séculos para ser e talvez nunca chegasse a saber que seria.

Inveja. Um dos sentimentos mais baixos que existem.



Estou longe de ser perfeito. Já disse isso e agora digo com dignidade. Porque onde estou não se pode esconder o que se pensa...

E é melhor que compreendam o que vou lhes dizer agora para que possam juntar-se em algo maravilhoso como foi a dança dos espíritos.

Onde estou não se pode mentir. E nem onde vocês estão.



Nerlo está deitado no tapete.

Começou a se masturbar pensando em um corpo de alguma bela garota.

Por um instante o verdadeiro amor se foi e se fez em êxtase vago.

É o que ele vai pensar depois do gozo.

A terrível grandeza perturbadora da verdade.

E só.



Deixo-os seguir e sigo.





**





O telefone tocou na casa de Nerlo.

Era seu chefe querendo saber se a fita da edição de uma festa de casamento já estava pronta. Não estava. Nerlo lhe disse que iria entregá-la pela manhã. Ele já tinha feito boa parte do serviço e iria terminar nessa madrugada.

Ele viu seu cachorro brincar com uma borboleta que havia apanhado da parede.

- Cachorro bonito. Disse ele pro animal. Preciso cortar umas imagens se não a gente não come na semana que vem. E ele riu enquanto passava as mãos por trás da orelha do animal.

Além desse emprego com a produtora, Nerlo escrevia textos publicitários para um conhecido e tinha uma coluna em um pequeno jornal, um site sobre literatura.

Ganhava o suficiente para pagar um quarto na edícula de uma casa onde viviam três pessoas de uma mesma família; sua comida e a do cachorro. Contava ainda com um dinheiro que recebia de seus pais quando os visitava ou quando perguntavam como “as coisas iam” pelo telefone.

Ele não tinha pretensões maiores do que sua sobrevivência.

Entregava uma fita de casamento a cada duas semanas, mais ou menos, a coluna do jornal era semanal, mas não era problema escrevê-la em algumas horas, quando não, escrevia vários textos para depois só ir entregando. Os textos publicitários eram mais raros. Nun os escrevia quando Sobral estava muito atarefado e lhe ligava pedindo ajuda.

Esses eram os que pagavam melhor. E além disso, Sobral lhe comprava as drogas. Era uma das únicas pessoas com quem Nun gostava de sair para normalmente se embriagar ou ir à alguma festa barata.

Mas do que dinheiro, Nerlo precisava de tempo para fazer o que realmente lhe importava e isso ele conseguiu com esses empregos não muito consistentes.

- Filosofar é para burguês, ou para quem não tem pretensões de sobreviver.

Todos os autores a quem ele lera, ou eram ricos de família, ou seguiram a carreira acadêmica para se garantir próximo ao oficio de pensar e pesquisar.

- Ficaram limitados por isso, quando não se fizeram muito bons, calando a academia.

Nerlo tinha talento para pesquisar, não era responsável e nem mesmo gostaria de enxergar que havia algo mais que a idéia que sempre lhe movera pela vida.

- Sou um egocêntrico altruísta. Penso as coisas pra mim e elas acabam servindo para os outros. Agora vou escrever algo ligado à mim mesmo. E então ela vai para página e outras pessoas pensam: “Meu Deus! Eu também penso assim”. Porra!, então porque diabos não escreveram antes. Mundo estranho.

Era assim. Tudo érea afetado por sua obsessão. Sua vida era uma obra de arte.

- E nem sei dizer até quando uma vontade é obsessiva. Sei que sou um rapaz de curta idade que busca aquilo que quer. Defendo meus sonhos.

E se o que ele quer existe ou não, eu também estou tentando saber.



A incerteza nos move, não nos deixa conformar e nós somos as peças dessa grande máquina que é o mundo. O patrão nos faz incertos para que sua empresa não estagne. Eu me levanto porque preciso trabalhar para ganhar dinheiro e arrumar umas mulheres interesseiras e talvez eu tenha um filho e talvez meus pais me mandem embora de casa e talvez seja bom ir à praia no fim do ano e ter uma casa confortável me faz melhor e talvez um câncer comece a corroer meu fígado e eu nem tenho plano de saúde e talvez o filme em cartaz será bom e talvez eu encontre meu amigo na esquina se for comprar um pão e manteiga e talvez a atendente que nunca quis saber o nome fosse uma mulher interessante e talvez eu ganhe na mega sena e talvez eu não vá saber como usar o dinheiro porque tê-lo vai me fazer ver que o vício de enriquecer era a única coisa que me movia e talvez eu nunca seja capaz de amar porque talvez eu não acredite que possa acreditar em alguém à ponto de ser mais do que sou e talvez um maluco exploda uma bomba em um maldito país que vai explodir outra maior nesse mesmo e a poeira tóxica vai atravessar todas as fronteiras entre nós e vá causar uma bronquite asmática causando uma nova peste no mundo e talvez minha comida já esteja estragando e talvez a borboleta que meu cachorro comeu fosse importante para o equilíbrio ecológico do meu jardim e talvez a vida seja somente talvez enquanto eu não deixar de pensar e talvez viver.

Por isso levantei hoje de manhã. Para talvez ter um belo dia.

Nós somos os meios de evolução.

Por isso somos incertos do amanhã, do agora e do que foi.



- Pronto cachorro. Conseguimos mais uma semana de alimento. Ficou bom! muito bom! Espero que os editores do site não mexam nesse também. Se não sabem, por quê mexem? E vamos começar com o casamento. Será que a noiva é boa, dog?



E Nerlo abriu o arquivo de vídeo para começar a edição em seu computador.

O cachorro sentou-se ao seu lado.

A borboleta estava esparramada na porta do quarto.





**





Já amanhecia na cidade.

Atrícia estava acordando e viu seu cliente sentado no beiral da cama. A luz transpassava a cortina por trás dele e vinha bater em seu rosto. Ele estava fumando um cigarro e a fumaça se perdia no vento como seus pensamentos, pensou ela.

Depois de alguns anos de acompanhante, Atrícia começou a criar prática em entender que algo perturbava seus homens. Ela percebia na conversa antes da transa, na própria transa e como agora, depois da transa.

Curtiu um pouco mais daquele instante até que ele percebesse que ela se encontrava desperta. Olhou-a e deu um sorriso tímido da onde estava. Ela moveu-se até ele arrastando-se pela cama, ainda sonolenta, o lençol cobria uma parte de seu corpo, era como um vestido cortado em suas costas. Ela parou por trás dele e lhe deu um beijo no ombro.

Ele sorriu e continuou olhando para frente; pensando para frente.

- Um, acho que alguém nem vai querer o café da manhã? Disse ela.

- Eu já pedi. Acordei bem cedo e não quis te atrapalhar. Você dormia tão tranqüila.

- Dormi bem mesmo. Disse se espreguiçando.

O lençol caiu de seu corpo e ela encostou seus seios no corpo dele enquanto o abraçava para perguntar.

- E com você? Como fomos de noite?

- Foi muito boa. Ele deu um beijo no rosto dela que estava por sobre seu ombro. Posso te perguntar algo?

- Hum, depende. Ela falou meio brincalhona. Brincadeira. Pode sim. Estou vendo que tem alguém aqui com mais duvida que desejo.

- Bom, eu tenho os dois. É que eu queria saber algo...

- Não foi uma crítica. Foi tudo maravilhoso. Atrícia ficou com medo de tê-lo perturbado. Se quiser perturbar um homem, conteste sua transa, ela sabia e não era o que desejava fazer.

- Você já gostou de alguém? Não sei se é gostar, mas já quis ficar com alguém e ficou pensando se ia dar certo ou não. Ele perguntou meio tímido.

- Uow, uow temos alguém apaixonado. Ela sussurrou no ouvido dele.

- Não é isso. É só uma dúvida...

- Sua dúvida já é um grande indício, pensar se vai rolar ou não já é um gigante indício. Você gosta dela. Vocês homens não admitem tais coisas. Isso é besteira, entende. Precisam que alguém lhe mostre de fora para que aceitem.

- Mas a gente nem transou ainda. Sabe, ela trabalha comigo e rolou de ir jantar...conversamos como faço com você, mas era diferente. Por isso perguntei se você já gostou de alguém. Nós, eu e Reina, fomos muito parecidos do que sou quando estou com você.

- Opa. Não confunda as coisas. Nós temos um acordo. Não é a mesma coisa que sair com alguém que se gosta e é por isso que você não sabe o que fazer. Nosso compromisso não é com sentimento é com dinheiro. Atrícia se deitou na cama.

- E o que você acha que eu faço?

- Não tenha medo de se apaixonar. Quem tem medo é porque esconde algo ruim. Você é bom comigo, poderá ser com outra mulher também. Mas não confunda as coisas.

- Eu gosto de você sabia. Podíamos ficar juntos um tempo...

- Não. Porque eu não quero. É uma escolha minha.

- E você sabe quando vai querer?

- Eu espero querer. Estar aqui não me incomoda e se um dia for diferente, será.

O homem imaginou ter magoado Atrícia.

Mas não foi o que ocorreu.

Ela não é nada insensata e tem personalidade para discutir sobre tudo o que é.

- Eu vou sair com ela amanhã. Atrícia brincava com o travesseiro na cama. Com a moça do escritório. Continuou ele.

- Muito bom. Acho que vou perder uma companhia. Respondeu ironicamente Atrícia.

- Não leve tão a sério...

- Diga isso para você mesmo.

Os dois riram e ele abaixou-se para beijar a barriga dela.

- Ah, se um encontro mais romântico não lhe der tesão, vou estar sempre por perto para atendê-lo. Amar não é feio, mas pode ser que não se acerte de primeira

- Canalha. Por quê você é tão direta?

- Porque eu trabalho com vendas.



A campainha do quarto tocou. Era o café da manhã.

Atrícia pensou, se levantando da cama:

“Antigamente os medos eram outros. Que as pessoas explodissem o mundo, talvez, e agora temos medo de amar. Que mundo estranho o nosso.”





**





Pro inferno com sua realidade chata.

Eu sonhei e foi bom.



Nun ainda estava deitado na cama. Iria ficar ali por mais um tempo fazendo seu laboratório sobre o que havia visto por dentro de seu sonho.



Muito bom, eu sei que era ela.

E agente estava abraçado. Um infinito.

O que eu disse? Não sei. Nossa! estava dentro de um tipo de teatro, encontrei algumas pessoas estranhas na fila, meu primo, quê que ele estava fazendo lá? e então eu entrei e me sentei, dos lados mais pessoas que nunca vi na vida.

Um teatro surreal, umas máscaras misturadas com um filme alemão que vi esses dias, a música era a mesma do filme e então ela apareceu e sentou-se do meu lado.

Eu fiquei na minha, o mundo pára quando a vejo, mas ela se sentou e, diferente dos outros sonhos em que nunca nos falamos, comecei a comentar algo da peça com ela.

As pessoas voavam muito rápidas na cena, umas estavam presas em cabos e outras não, lembrei-me dos equilibristas do circo, somente voavam, não me importa mais e agora as coisas começaram a ser projetadas na parede ao nosso lado como um filme e foi então que nos viramos para ver o filme e estávamos juntos.

Eu estava abraçado nela e na maravilha que são os sonhos, nossas cadeiras pareciam uma cama pois eu pude abraçá-la deitado, estávamos de lado e eu com meu braço direito em volta de sua cintura.

Eu lhe disse alguma coisa, puta merda!, era belo o que disse mais não me lembro.

Ela falou bastante também...

Foi algo do tipo,

“antigamente nós tínhamos outros medos, agora temos medo de amar”

Foi extremamente carinhoso aquilo tudo.

Havia calor movendo-se em volta de nós. Radiando-se dos nossos corpos.

E então percebi que ainda estávamos juntos.

Queria ela comigo, eu passei a mão por seu corpo, seus seios, desci até sua vagina.



Ela estava comigo e tudo se foi porque é assim que é.

A vida pode ser um sonho, mas o meu está distante, disperso no nada, disperso no que desconheço.



Agora me vejo acordado.

Nem consigo me lembrar da poesia que sonhei e o sentimento que tive ao lado dela se foi. Por um instante ainda lembro do amor como algo seguro. Mas, é só.

Levanto-me. Escovo meus dentes. Gosto de cagar de manhã.

- Porra! Sem papel higiênico.

Realidade chata. Realidade chata e limitada.





**







Andei por todo o tempo só para ouvir a sua voz de novo

Andei por todo tempo só para saber como se faz o gozo

Vivi para te ver e morri para a gente ser

Você se faz em minha alma

E se vive inteiro nessa calma

Leve-me para dentro do que você é em seus segredos

Mostre-me todos os impasses que são meus medos

Pois agora me sinto seguro e seguro seu corpo ao meu...

Sou somente seu

E nada pode nos fazer sozinho Nem o tempo; nem o espaço



E nem o segredo encoberto em todos os caminhos



E amanhã, quando não estiver ao meu lado, vou seguir somente calado

Porque sei,

Sou somente seu E só...



N.N em sonho





Atrícia estava cochilando em um sofá da sala e o filme que passava na televisão ia se transformando em seus sonhos. Aqueles momentos em que a tv se projeta para dentro de nós porque não temos mais controle do que nós somos e do que é irreal, além de elétrons que correm por sobre uma tela recriando movimento, assim, vida.

Sua conversa sobre querer ficar com alguém ainda passava em seus pensamentos. Ela estava pensando se um dia teria filhos, uma família e um trabalho comum, como pessoas comuns fazem todos os dias.

Imaginou se conseguiria viver com alguém sem que seu passado os atrapalhasse.

Um motivo de discussão quando eles estivessem casados por um certo tempo e seu marido bebesse um pouco mais em uma festa de fim de semana, e a paixão entre eles já ter sido levemente desgastada pelo tempo, e a conversa tornar-se tão importante quanto o sexo, imaginou ela se ele não a magoaria apelando para o que quer que tenha feito antes de conhecê-lo.

Ela não casaria com um homem desse, foi logo pensando, mas não sabia se encontraria ou se apaixonaria pelo cara errado. Alguém que a levasse a pensar em ser diferente em sua vida. Alguém para se amar. Um cara além de um programa de uma única noite. Pensamento chato todo esse. Eu conheço caras legais na minha vida e já pensei até em aceitar uma proposta de namoro com um deles e se for assim será.

Atrícia trocou o canal. Continuou deitada até que seu telefone tocou.

- Alo, alguém que vai me trazer o chá da noite? Disse Atrícia.

- Só se for com vodca, minha amiga. Hoje não é dia de chazinho.

- Hun, como vai Uandra? Quanto tempo, ein?

- Que sonão é esse? Nem parece a moça que vai comigo até uma super festa com direito à convite vip e tudo.

- Nossa, acho que não é o dia?

- Que isso mulher. Você não vai sair com ninguém porque se não, não ia estar em casa e dormindo, eu sei. Então vamos nos divertir um pouco. Como garotas comportadas. Hoje eu posso ser a fisioterapeuta?

- Pode sim. Atrícia riu bastante.

- Sabia que a Tícia, a caçadora de tesouros, não ia resistir. Vai ter uns homens bãos lá, menina. Você vai ver só. Convite de quem garante.

- É, se eu não dormir no colo dele.

- Se você arrumar o cara que eu saí semana passada, o do convite, você não vai dormir um minuto, meu amor.

- Safada. Disse Atrícia se levantando.

- Mas esse já é meu. E você, algum caso mais tipo namoro?

- Nada. Sem envolvimentos maiores, sem problemas maiores. Just for fun.

- Esse é o lema. Se bem que está legal minha vidinha comportada. Ele ligou hoje. Combinamos roupas; perfumes, falamos sobre um cara do trabalho dele que está lhe criando problemas. Ah!, advogado, querida. E dos bons viu.

- Legal amiga. Mas vai com calma para saber se ele é da lei boa ou ruim.

- Certeza. Estou prevenida até o ultimo fio de cabelo...

... Atrícia ligou o som da sala e seguiu para cozinha.

- Hoje estou em um dia romântico, sabia? Foi uma conversa que tive de tarde e me fez pensar em ser uma Atrícia casada, filhos e tudo.

- Quando eu estou assim, eu bebo alguma coisa.

- É sério, Uandra. Disse ela cortando a brincadeira da amiga.

- Mas, e ai? Você vai arrumar seu marido hoje?

- Bem que podia, né?

- Podia mesmo. Ai vocês dão uma festa bem grande e ele vai estar lindo no altar...

- Imagina. Não vai ser assim, não. Podia ser como um sonho que estava tendo antes de você me ligar. O cara foi super romântico, me falou coisas lindas enquanto me abraçava, e a gente ficou ali, juntinho maior tempo ai ai..

- Querida, vou resolver seu problema hoje mesmo. Vou me vestir e já estou passando ai. Vou arrumar seu Romeu, que pode vir com um Alfa Romeu e tudo mais?

- Te espero, Safadinha.

- Vê se acorda, beijo.

- Outro também.



Atrícia bebeu seu suco de laranja e comeu um pedaço de torta de morango. A luz da geladeira é realmente bonita, dá um ar sério na cena toda. Ela seguiu para o quarto.

- Romeu, bem que você podia ser como uma torta... e seguiu rindo dela mesma.





**







Tudo é tempo, espaço e matemática.

Sabe por quê?

Porque a matemática foi criada por pessoas que tinham tempo e precisavam de um espaço além de suas cabaças para conter suas idéias. Então, resumiram o mundo, o seu mundo próprio, em contas.

Mais ou menos como a música ou como faço com meu livro.

Tudo muito belo em teoria.

Dê um violão à um pós doc em G.A e peça para que ele toque um som. Quantos conseguem.

Peça para um compositor calcular uma integral. Ele vai saber?

Um filósofo é um matemático que usa palavras no lugar dos números.

Nada disso é necessário ao mundo. Mas o torna belo e capaz de ser vivido.

Toda arte é desnecessária. Aprendi na escola que o ser humano “nasce, cresce, reproduz e morre”. Não tem nada de arte ou de pensar nesse meio.

Mas que mundo besta e chato seria esse.

Por isso nunca fui muito com a cara de escola, mesmo tendo pensado esses dias que a profissão de professor é uma das mais belas que possa existir.

Só que as aulas são dadas por pessoas e as pessoas são susceptíveis de erros. Assim, se um irresponsável de uma ignorância tremenda vai lecionar para uma classe de cinqüenta crianças e diz alguma besteira, elas aceitam isso como se fosse verdade.

Isso abrange toda instituição que queira trabalhar com formação de conceitos, começando pela família. A igreja também seria um tema amplo para discussão.

Mas é melhor não falar muito desses conceitos. Isso pode dar morte.



Amo e odeio a sociedade porque se não fosse ela eu não seria.

Se você nasce e ninguém te ensina nada você é um primata.

Se você nasce e o viver social lhe é insuficiente, família; escola; trabalho, ...Você é um louco.

Entenda: se não fosse a sociedade você não me leria.

Se não fosse eu não seria!



Se a linguagem fosse exata como a matemática não haveria tantas guerras no mundo.

As pessoas interpretam um livro e se matam para defender sua interpretação.

Política e dinheiro.

Hipocrisia.

Se algum dia alguém quiser interpretar minha obra e tornar isso algum estudo, por favor, peçam minha ajuda. Vou ter um prazer imenso em me criticar.

É o único modo de saber realmente o que eu quis dizer.

E, na verdade, nem eu vou saber.

Psicografem minha alma quando eu morrer.

Ela vai ser mais clara e menos arrogante que eu em vida.



Não sou um sujeito livre por culpa de uma essência corporal que não me contém.

Um louco!, um louco.

Eu vou ao médico. Vou transplantar meu coração. Esse não me faz mais sentido.

Vou deixar todos os meus órgãos para estudo. Museu. Estão velhos. Não dão conta daquilo que sou.

Sol, si menor, Mi e Dó.

Há segredos nas coisas íntimas de nossas almas que não se resumem em frases de efeito ou filosofia de bar como essas que fiquei vomitando no papel.

Estou me remoendo tentando entender uma melodia e não sai beleza disso tudo.

É de beleza que eu falo.

A beleza não está na técnica. Está na alma. A minha não nasceu para tocar. Mas que besteira eu digo. Há três anos diria que não nasci para escrever. E talvez não mesmo.

Diverte-me descobrir até onde vou. Se não ficasse vagando a deriva pelo rio de meus dias de nada valeria estar vivo. Até encontrar uma cachoeira pelo caminho para mudar meu rumo, sigo nesse mesmo leito das letras.

Eu poderia aprender as coisas que não sei. Como tocar meu violão. A questão é que não gosto de aulas e quebro minha cara na vida mesmo. Frustra-me minha imperfeição, mas me aceito como imperfeito e não fico reclamando de tudo que não sei fazer ou tentando ser o que nunca fui. Só sou.

Não sei tocar. Mas posso aplaudir quem toca e sentir as notas percorrerem por minhas células, bem como todas as outras artes que me fazem bem. Nossos limites nos fazem ver como são necessários todos os outros talentos do mundo.

Sim, isso tudo é subjetivo e nem vou começar a pirar nessas questões. Existe arte podre e existe arte boa. Existem pessoas podres como existem pessoas boas. Entre esses dois extremos que eu estupidamente escolhi para fechar minha sentença, existem todas as discussões do mundo.

Não sou a pessoa mais clara para julgar isso tudo.



Julguem-se a si mesmos que já é um bom começo para analisar qualquer coisa na vida.







Nun cansou de escrever seu capítulo.



Entendem um pouco o por que resolvi segui-lo?



Vocês nem imaginam o que aconteceu do lado de cá enquanto ele escrevia.



Sua alma é um para raio que penetra por tudo que se faz presente.



Não sei por qual motivo, mas ontem ele me notou enquanto tinha mais liberdade pelo seu sonho. Ele se fez presente próximo à mim como se me olhasse por dentro e logo seguiu para prosseguir por seus caminhos.



Acredito que agente ainda vá se comunicar.



Tomará que nos seja permitido e de sua vontade fazê-lo. Eu gostaria de ajudá-lo em sua busca, se assim fosse nosso caminho e meu motivo de estar aqui.





Fim.