sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Rivotril

Minha criatividade está numa caixa de fósforos
Aguardando uma centelha de espinhos quentes.

Pensava que pudesse guardar-te perto pela imparcialidade da alma, contanto era necessário algo de mais doce, era preciso à voz do corpo.

Andando pelo bosque viu Alice. Ele desceu com ela pelo buraco do coelho. Vendo-o inseguro, ela disse – Fique calmo, é a maior paz do mundo.

Alice, olho no espelho e não me vejo além. Não posso descer a espiral ao teu lado, usar das maravilhas. Querem-me um ser reto. – Venha, venha enquanto o vento é forte, pois já cantas o som dos tolos e parecem-te como eles. O isolo não irá trazer-te de volta. Bang bang shoot shoot yeah yeah Don`t you know.

Desço do palco e volto para o camarim, minha própria memória me diz não.
Criatividade, a sala onde despir-se é como arrancar a pele do corpo.
Não és ator e tão pouco poeta: és o meio da existência.
Faça dela melhor valia. Lute para saltar do teatro.
Trabalhe. Tem sido o seu melhor papel na vida.
E ainda nem achaste atriz principal
Quem virá escrever a cena final?

Um lord?
Tá mais para um simples boçal.

Sociedade é um conceito criado em ilusão - Tire o mundo dos seus ombros, ela disse. E coloque os seus lábios poéticos em meus lábios ilusórios.

Somente pedia para ver a aurora boreal no nordeste da Inglaterra A enfermeira vestia um vestido colorido Arrochado ao corpo a aos sonhos dele

Olhando a natureza morta e a pílula manipulada por centenas de laboratórios há mil anos luz de lucro, soube que não iria dormir se não desenhasse a droga branca na sua goela. Eu só quero cantá-la todas as manhãs da minha vida. Até os coelhos brancos sabem disso, por isso não facilitam nossa conversa nesse mundo. Contanto nos achamos, antes que o carvão acrílico consuma-me e o lucro em minha boca torne-se parte duma rotina prosaica. De pré-aviso: não será uma conversa comum, entretanto vai cativar-te como nenhum outro doce jamais pode. Love or Confusion pode ser a trilha. Fica por sua escolha e por minha jura. Eu te amo. Leu-se, desenhou e engoliu.

Não sendo sua alma rude, seria impossível emocionar-se com algo rude, riu-se dele. A dor ou a cegueira da essência é como um casulo, um casulo de um animal inculto, um ser que ainda não sabe que pode voar. Quando livrar-se do impuro, poderá emocionar-se de novo, como esse nobre que chora ao ver-te aprender.

Com a cara Prudência desatada e caminhando na caverna de gelo o pequeno pingüim disse-lhe: slide (deslize). Não era para ser mais um capitulo na luta, entretanto a música e a proximidade de outro corpo tiram-me de mim/ como se me arrancasse um medo de ser vc/ “Escorregue, somente e com suavidade”. Demonstre um pouco de ternura ao olhar do lado/ Misturamos a harmonia com um bom filme/ como se fosse a espiral dum fino estilete/ cortando a asa duma grande e bela borboleta. “Não coloque na minha boca palavras que eu não disse” Desculpe-me se o fiz. Vc só deveria preocupar-se mais com vc mesmo e esquecer-se dos outros. Vai doer? Tanto quanto um simples beijo no rosto. Estamos todos cansados, não é mesmo? Volte. Volte com seu brinco de lesma/ casual desmedidamente casual e linda como um engano/ porque o certo nunca foi interessante e poucas vezes choram.

 O vento vadio era como a garota andando por minhas costelas entendido assim por minha mente. Jesus alegria dos homens. Canção de ninar.

Ele imaginou o purgatório como um lugar onde a gente encontra as pessoas com quem deixamos algo por dizer ou fazer. São os dois segundos de consciência que estamos morrendo estendidos ao extremo.
- Uma sala para dois. Uma mesa reserva para o que passou. Olha, disse ela incisiva, esqueça! Nem na Divina Comédia é assim.
- Eu não preciso de Dante, preciso dos meus dois segundos de consciência eterna para resolver minhas pendências.
- Vá à psicóloga.
- Se ela sair comigo ela pode me ajudar. Brindaremos pílulas e talcos e álcool sem remorso. Não chega serem os dois segundos, mas é uma tentativa.
- A vida não é um filme, ela é bem diferente de ficar escrevendo.
- Por isso há quem não caiba nela.

Os ingleses queimam lojas de luxo. vc enche seu mural de fotos e flores, para dois. Consumo e exposição - Traga-me uma dose porque estou mal.

Por que o processo de apaixonar-se depende da outra parte? Seria mais saudável conseguir o mesmo êxtase olhando para uma uva, por exemplo.

Cartas na madrugada                                                             
Seriam as melhores escritas
Dum modo e enquanto as horas, caladas e tanto ingênuas, passam
C`assim nos damos conta do cheiro, da voz e do gosto, ausentes
D`alguém que vai recebê-la.
Provável durma o sonho dos justos, anjo torpe.
Sem saber que pela manhã haverá uma
Prova tímida duma vigília que lhe diz:
“bom dia!”

Estou preocupado com o novo papel.
Não para escrita, isso não! Teremos as paredes,
E os seus seios, se o permitires, para compor.
Mas não posso levar mais adiante sem cair no teatro.
O palco? Você sabe bem qual é. A peça da vida, a morte da alma, o cotidiano.
E por quê? Porque sem consumir a sociedade líquida derrete-me
Que nem os vermes iriam enxergar o meu sangue. 

Há um personagem numa peça
Da qual tem sido difícil deixar de encarar.
É somente um garoto de doze anos.
Não se leva um garoto de doze anos para sair
Esperando que ele se torne um homem de trinta.
A vida é real mente esquisita
Estamos todos cansados, não é?
Nas ruas de carnaval os insensatos
Tem um reino para defender.
Nesses tipos de dia o escritor saiu nu
Mas não pode livrar-se de sua máscara.
Nós precisamos de uma conversação no meio disto:
- Você é uma pessoa completamente normal. Disse ela, talvez por piedade.
- Obrigado por dizer. Disse ele, constrangido, contanto polidamente.
E surgiu um coro como se fosse um passo da bateria
Vocês terão que se encontrar em alguns desses anos:
O garoto, o escritor, a defesa e o constrangimento.
Venha limpar os paralelepípedos sujos de mijo
E vomito comigo?
Já que a gente não gosta mesmo de sair, e quando o
Fazemos, é somente num desfile silencioso.
Estamos todos cansados!
Eu sei que você não iria contar-me. O suspiro não chega à festa.
Então vamos para rua pular até que soprem todos os
Ossos e não daremos de comer aos vermes, pois estaremos
Queimando feito uma página duma peça sem final
Sobre as lareiras dos ricos ou fogueira dos mendigos.
Vamos limpar isso comigo!
Amor não combina com muita exposição
Foda-se, é carnaval.
Quando o efeito passar, podemos admitir que estamos
Na beira do abismo. E absurdamente líquidos.
Trocaríamos um punhado de papel por
Simplesmente viver caso dia desses nos
Encontremos?
Eu juro admitir que do meu lado
A resposta é afirmativa.
Contanto derreto-me de vomito e mijo quando
Aproximo-me dos doze anos sem poder contrastar
Com os trinta que supostamente deveria ter e não espero
Sinceramente passar dos dez segundos depois desse ponto
Final. Ao menos, não planejo como seria.
E a sua preguiça não deixou-lhe chegar ao fim.


Acantiza.
–sábado de carnaval- pastel e óleo sobre moldura.


 
G.H. crispou as unhas em Gregor. Ela sentia agora o nojento na boca. Gosto de coisa alguma. Começou a cuspi-lo furiosamente, gosto de um nada, um nada que no entanto lhe parecia quase adocicado. Fragrância de flor Clarice como o de certas pétalas. “Eles cuspiram-se a si mesmos, sem chegar jamais ao ponto de sentir que enfim tivessem cuspido a alma deles toda”. No meu madrigal existencialista, foi essa a paixão segundo Clarice Lispector e Franz Kafka. Algo do qual, de melhor dita e conselho, almas ainda em formação deveriam escapar.
domingo, 4 de março de 2012 03:59
acantiza.

Platão, estou sendo expulso da república. Percebi realizando uma prova de raciocínio lógico da IBM. Os conglomerados da economia não querem do teu lirismo! Elas bebem na tua secura lógica.

O meu espírito está corroendo o meu fígado, rins, ou intestinos? Seja qual for, é um câncer! gerado na minha negligencia para com ele, formado numa alma dilacerada... esculpido num corpo que já anoitece. È cedo! bem o sei, contanto não vieste salvar-me anjo, e tão pouco sei, sozinho, como fazê-lo. Em palavras, só adoeço mais e mais...
Hoje sonhei com o beijo doce. Você me levava e as dores se foram.


Ser entrevistado é como ser levado com uma mulher de verdade. No fim, ambos podem levar-te ao Céu ou ao mais descabido chão dessa Terra.

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Aprovado!
Como se prova um doce deixo-te deste remédio:
Desço até a porta que não se fechou com força,
Deixam que digam foram as ervas
Sabemos nós foi o teu perfume.

Devo entrar com a carta um véu
Um leme para que retorne a ilha
Da imbecilidade que foi saltar das tuas artimanhas
De rainha sem juízo.

Retornei a casa onde dá-me desgosto ainda ser criança.
Poríamo-nos no colo sobre o colóquio do juízo
E libertarias o meu espírito que clama que volte.

Prova como se provaria o doce de um passado que não lhe retorna
Jamais ouviste a força que lhe há por dentro
E agora ela arrebenta como um navio em mar revolto.

Deixo-te aqui droga dos piratas
Os mercenários modernos com seus diplomas de luxo.

Escrevo uma carta d`uma psicóloga que não terei.
Não foi nada dessa substância que tirou-me o juízo, juíza.

Foi não provar da tua essência e voltar para casa onde sou rato
A mesma casa que relatei em 2003
A mesma casa de que todos somos escravos
O corpo que vela na alma o silencio do espírito!

Volta que nos encontraremos em melhor barco
E para não deixar-me por ser irônico
O batizaremos, sobre as ondas, branco e doce veleiro
Armadilha dos que nunca almejam velejar:
Rivotril.

O barco de que não preciso.

Já de ti
Aguarde o chamado
Fomos aprovados no teste
Agora que venha o reinado
Antes que do juízo não sobrem os meus ossos.

À ti
Uma vela, um beijo e um afetuoso retorno.

E caso não o queiram os maus anjos
Não eras para ser a rainha desse reino de vidro
E serás como um quadro na casa antiga que já apodrece:

Ou tira-me dela ou as portas serão os meus nervos.
E disto não há barco
Veleiro jaleco branco de mercenários
Que possa livrar-me.

De um espírito forte ninguém pode.
Mas para isso deve juntar-me
E será a rainha dessa vela
E terás o nome nessa carta.
Venha.


.fim.
Acantiza
9 março 2012.


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