Dali é possível ver a ponte do
centro de Florianópolis, iluminada bem ao fundo, parado abaixo dos guarda-sóis
com luminárias de madeira. A água vem bater no cais e veem-se barcos e velas.
Paredes de pedra sempre o deixaram extasiado. Como podem os noivos que casam
ignorar que logo em breve farão parte do cenário do narrador. Um passeio no
bistrô. Camila me chama para tirarmos uma foto. Não discuto se é justo cortar a
minha introspecção. Não foi assim quando fui com Jaime e Cassandra na praia da
Armação. Depois no Boni na Lagoa da Conceição. Cada natureza e companhia tem um
êxtase próprio. Paramos na lápide com a inscrição de Santo Antonio de Lisboa.
Fábio percebe que o único que pode proporcionar o prazer de cervejas e petiscos
sou eu. Concordo, estou no êxtase e Camila reclama de fome. Lisandra que sempre
soube persuadir diz que obrigará o nego a pagar. Não é para tanto. Serão só
alguns noventa reais para desfrute. E sem eles estaria em casa. Lembramos ali
no banquinho em volta a mesa de pedra que seria interessante se o meu pai
voltasse a me visitar. Porra, aquela peixe assado com originais na praia do
Forte com o velho foi demais. Sou o anfitrião e as visitas estão felizes.
Conversamos que será interessante arrumar uns extras em Jurerê Internacional e
eu penso em como tirar a arma do console para assaltar o primeiro burguês dali
que não me permitir ficar na ilha. Bang Bang Shoot Shoot pilantra. Dessa vez
não será como quando tive ainda dinheiro e não arrisquei até o ultimo cents em
terras europeias. Isso ainda me dói. Dessa vez não saio tão fácil. O sorriso de
Camila ao comer o pastelzinho, a alegria de Fábio a sorver mais um gole, e a
reminiscência de Lisandra da sua lua de mel em Canasvieiras, tudo me indica que
estou no caminho certo, dessa vez. Meus caros bahianos, é bom sair do Santinho.
Poucos narrariam tanto em tão pouco. Alojamento não mais, vamos tentar é estar
nas paredes de uma dessas galerias de arte. Pintados por um ousado observador.
Sejamos resolutos. Todos se espantam quanto e quando pago. Lisandra estava
fora, Fábio: “meu Deus”, Camila: “porque você não falou que eu tinha cartão”.
Meus caros, não é isso de conta que vai me limitar permanecer na ilha. Sim seria
deixar de me encantar com os delírios dos noivos saindo da igreja sem perceber
que só o que preciso é encher o refil de realidade sem descartar a minha
narrativa. A magia está em como se leva a realidade de ser pago sim por algo
operacional, contanto com o extra que somente nós sabemos para observar o que
os outros nem sacam. Santo Antonio de Lisboa, por hoje levei você comigo.
Deixei Camila, Lisandra e Fábio por instantes. Voltamos a ver a ponte ao longe
e rumamos para o terminal.
aquilo que a chuva causa no som, o delírio causa na mente mas acima de tudo, acima de tudo, tentaremos transparecer amor, felicidade e paz, na sua maior parte. contanto, qualquer perturbação d`alma d`um nobre, que reste nessas palavras, sejam caladas por nobreza.. se vc chegou até aqui, continue!
terça-feira, 23 de junho de 2015
segunda-feira, 22 de junho de 2015
NUMA BOA
Eram três da madrugada, Tomas estava assistindo um filme bizarro e Tito havia saído para encontrar uma gata e ia aproveitar para pegar dez reais em fumo com alguns dos traficantes que perambulavam ali na orla. Não ia sair muito da rotina, a coisa estava se armando como o de sempre, digo, a cerveja estava gelando na geladeira, e estávamos eu e Tomas degustando um Cabernet chileno em copos normais mesmo. Erik estava com Camila na suíte, deviam estar cochilando entre algum e outro papo no espanhol cantado de Camila. Eu saí para sacada, dali dava para ouvir as ondas quebrando na areia como de costume, enquanto Tomas ria alguma coisa assim:
-Esse filme é maneiro. Os caras
estão pesquisando os filmes mais bizarros da internet, olha isso. O cara tem um
saco no queixo.
Olhei e era verdade. Dei uma
risada. Então recebi a mensagem de aviso no whatsapp, era Sandro, ele falou em
inglês como costumávamos nos brindar:
-Hei body, we are heading to Santinho´s get
some wine, beers and the ordinary alcolic cocktail of Fábio. You guys whant
some more?
- No dude, everything is done. Just come fast.
Eu respondi.
Fui e peguei uma cerveja em
alegria da vinda dos caras. Erik saiu do quarto e perguntou se poderia se
juntar no vinho. “É claro, meu caro”. Logo Camila se juntou a nós e sentou-se
ajeitando-se no sofá, dividindo o pequeno espaço com Tomas.
Os caras tinham que chegar para a
gente pedir as duas pizzas gigantes e uma doce. Eu optaria pelo lanche gigante
feito por algum gaucho migrado para cá, na verdade. Mas tínhamos que escolher
algo que comportasse no estômago e no bolso. Já era fim de mês e sabíamos que
uns teriam que pagar mais que outros na conta, então caberia mais a pizza
mesmo. O fato é que eram três da madruga e se não viessem em meia hora parariam
as entregas. Aqui não era São Paulo ou Rio onde os deliveries são vinte quatro
horas. Eu disse:
- Caras, vamos pedir o rango.
Sandro e Fábio estão a caminho.
- Liga do meu, uma escarola com
bacon, uma calabresa com cheddar e uma brigadeiro. Todos concordam, disse Tomas.
- Os caras tão ostentando, falou
Erik. Mas quem sou eu para discordar desse menu. Só tou com o orçamento baixo.
- Eu pago hoje, amor. Falou Camila, em brazilian spanish colombian.
Ligamos. Ia demorar quarenta
minutos. Os caras chegaram, avisou-nos o interfone. Todos ficaram na euforia,
formamos realmente uma amizade, um time. Quando cruzaram a porta foi aquela
saudação. Quando Fábio pôs o coquetel alcoólico na mesa foi aquele sarro.
Alguém disse:
-Cortes no Orçamento.
- O nego nunca saiu dos cortes do
orçamento, disse Tomas. Todos sorrimos.
Tito chegou e estava feliz com
seu encontro. Colocou o fumo num pires e alguém começou separá-lo com uma faca.
Ficamos mais felizes ainda com a chegada das pizzas gigantes. Foi um banquete
dos Deuses, como de costume. Eu já não fumava mais maconha mais isso não era
problema: a energia da galera era demais.
Perguntei então se mais alguém
estava vendo as postagens de nossa antiga colega Suelen no facebook. Referia-me
a ela ter se batizado evangélica e ultimamente estar postando um punhado de textos
bíblicos. Sandro comentou finalizando aqui:
- Caras, isso vai até fazer bem
para ela. Ela já não tem muito o emocional legal e só escolheu caras que não
ajudaram muito nesse aspecto. Digo, todos que tinham menos que trinta anos.
Deixa ela assim...
Tem sido realmente fantástico. E
digo: isso é o mínimo do que posso ir dizendo. Há muito mais. Porém amanha é
dia de ir a Santo Antonio de Lisboa, e quem sabe trabalhar numa galeria de
artes.
Acantiza, 22 de junho de 2015.
sábado, 20 de junho de 2015
DA LITERATURA E DO PORQUE VOCÊ PODERIA PENSAR EM FORÇAR A SUA DEMISSÃO
DA LITERATURA E DO
PORQUE VOCÊ PODERIA PENSAR EM FORÇAR A SUA DEMISSÃO
Você acha que alguma coisa te
segura nessa posição que julga por existir como posse. Eu digo: quem é você?
Pois eu vou dizer que nem posição e nem existência cabem no julgamento de ter
qualquer oposição ao teu eu anterior. Quem julga é a sua consciência. Você tem
que se aproximar disso ou alguém vai te tirar dela, de possuir, de ter vida. Cedo
ou tarde acontece. Tiram-te a posição de segurança e isso é uma graça concedida,
uma pérola entre ostras fechadas em si mesmas. Tiram-te. Se não for por um boçal
aproveitador que atende como supervisor, vai ser por algo que chamam Deus. E
será forte. Um baque. Você tem que desistir. A liberdade está na base da
desistência de querer ser alguém para outros, ter um nome, ter um cargo. Nada
disso é o seu eu anterior. Não faz qualquer e mínimo sentido no valor, na
vitória final da morte. Você tem que resistir ao que dizem. Fazer de cada dia
uma negação do fato que alguém domina seu direito de não ser como o outro.
Ninguém domina a ignorância de querermos ser alguém. Nós já nascemos alguém. A liberdade está no fato de você se negar um
ser humano, pois ouve um antes. A liberdade é não querer ter qualquer posição
fixa. A liberdade é enfiar um pau na boca de quem diz que a sua careira cabe somente
a você. A sua carreira profissional é uma misera ilusão, criada pelos que
lideram o jogo, ilusão de que você pode existir eternamente. Você é perecível
como o idiota que julga tomar o seu destino. Você tem que escolher, ser capaz
ou incapaz de não ser alguém. Eu fui incapaz. Eu me espelho no outro e construo
um eu que costuma se frustrar. Seriam esses que percebem aqueles que mudam o
mundo? Porque tenho a gana de mudança! Alguém me fez assim social e a cada
renuncia minha eu me desfaço para ser a realidade que eu era antes de nascer. Meu
eu anterior. Para que tenha valor o que você me diz, eu preciso primordialmente
aceitar que eu fui um eu anterior. E o que sempre existiu antes foi algo como Deus.
Depois as palavras. E agora a tua misera demissão se torna um nada imenso e uma
brutal oportunidade de afirmar tudo que eu quero dizer. A volta ao que importa.
Entender o que vale de verdade para me chamar alguém e, quando for a linha
final, me entender alguém autêntico e levar isso comigo. Garçom é como vocês me
viram, mas é como escritor que eu vou permanecer. Tem mais a ver com meu eu
anterior. Meu próximo contrato poderia ser com uma editora, assim me polpa o
título deste texto no próximo e demais contratos findando uma carreira da qual
não faço questão alguma. Do diário eu vou às personagens. Nisso vocês me
ajudaram. O resultado de um falso visionário é ser enganado, e tanto ele,
quanto os que o enganam, são bons caracteres. Vindo em breve.
Acantiza, 20 junho 2015.
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