ESQUETES DO LIVRO O
PEQUENO PRÍNCIPE PARA AS CRIANÇAS DO NIDS – NÚCLEO DE INTEGRAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO DO SER
Escritos por Augusto
César Cavalcanti.
ESQUETE
1. – PARA QUEM FOI ESCRITO O LIVRO.
NARRADOR
I
A Léon Werth.
Peço descupas às crianças por
ter dedicado este livro a um adulto. Tenho justificativa séria: esse adulto é o
melhor amigo que tenho no mundo. Tenho outra justificativa: esse adulto é capaz
de entender tudo, mesmo os livros para crianças.
NARRADOR
II
Tenho uma terceira
justifacativa: esse adulto mora na França, onde passa fome e frio. Precisa de
consolo. Se todas essas justificativas não forem suficientes, quero então
dedicar este livro à criança que esse adulto foi outrora. Todos os adultos
foram inicialmente crianças. (Mas poucos se lembram disso.) Assim, corrijo a
minha dedicatória: A Léon Werth, quando era menino.
ESQUETE
2. – UM AVIADOR NO DESERTO E UM MENINO
AVIADOR
Meu avião deu pane em pleno
deserto do Saara. Vou dormir essa primeira noite a mil milhas de qualquer terra
habitada. Estou mais isolado que um naufrágo numa jangada no meio do oceano. O
tempo passou que nem percebi, já vai amanhecendo o dia. Mas que vozinha
engraçada é essa?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Por favor... desenhe um carneiro
para mim!
AVIADOR
O quê?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Desenhe um carneiro para mim...
AVIADOR
Mas... o que você faz ai?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Por favor... desenhe um carneiro
para mim...
AVIADOR
Mas eu nãi sei desenhar...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Não faz mal. Desenhe um carneiro
para mim...
(o Aviador fez o desenho que ele aprendeu com seis anos de idade, uma
jiboia fechada que engoliu um animal)
Não! Não, não quero um elefante
dentro de uma jiboia. Uma jiboia é perigosa demais e um elefante é grande
demais. Em casa é muito pequeno. Preciso de um carneiro. Desenhe um carneiro
para mim.
(O Aviador desenha então o carneiro)
Não, este já está muito doente.
Faça outro.
(O
Aviador desenha outro)
Mas veja... não é um carneiro, é
um marrão. Tem chifres...
(O Aviador desenha outro)
Este
é velho demais. Quero um carneiro que viva muito tempo.
(O Aviador, sem paciência porque tinha pressa em começar a desmontagem
do seu motor, rabisca o desenho de uma caixa)
AVIADOR
Está é a caixa. O carneiro que
você quer está dentro dela.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
É exatamente como eu queria!
Você acha que vai precisar de muito pasto para esse carneiro?
AVIADOR
Por quê?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Porque em casa é muito
pequeno...
AVIADOR
Vai, dar certamente. Eu lhe dei
um carneiro bem pequenino.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Não tão pequeno assim... Veja,
ele dormiu...
ESQUETE
3. – O AVIÃO E DE ONDE VEM O PEQUENO PRÍNCIPE
O
PEQUENO PRÍNCIPE
O que é aquela coisa?
AVIADOR
Não é uma coisa. Voa. É um
avião. É meu avião.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
O quê! Você caiu do céu?
AVIADOR
(falando modestamente)
Caí.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Ah, como é engraçado...
Ora, você também vem do céu! De
que planeta você é?
AVIADOR
Então você vem de outro planeta?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
É verdade que , ali em cima,
você não pode ter vindo de muito longe...
AVIADOR
De onde você vem, meu rapazinho?
Onde fica “em casa”? Para onde quer levar meu carneiro?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
O bom é que, com a caixa que
você me deu, de noite ela vai lhe servir de casa.
AVIADOR
Sem dúvida. E se você for
bonzinho, vou lhe dar também uma corda para amarrá-lo durante o dia. E uma
estaca.
O
PEQUENO PRÍNCIPE (chocado)
Amarrá-lo? Que idéia mais
engraçada!
AVIADOR
Mas, se não amarrar, ele vai
para qualquer lugar e vai se perder...
O
PEQUENO PRÍNCIPE (rindo)
Mas aonde você quer que ele vá?
AVIADOR
Qualquer lugar. Em frente...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Não faz mal, é tão pequeno, lá
em casa.
Em frente não se pode ir muito
longe...
ESQUETE
4. - OS BAOBÁS
O
PEQUENO PRÍNCIPE
É verdade que os carneiros comem
arbustos, não é?
AVIADOR
É. É verdade.
O PEQUENO
PRÍNCIPE
Ah! Fico contente.
Então também comem baobás?
Os baobás , antes de crescer,
começam sendo pequenos.
AVIADOR
De fato! Mas por que você quer
que os carneiros comam os baobás pequenos?
O PEQUENO PRÍNCIPE
Ora! É uma questão de disciplina.
Quando se conclui a higiene da manhã, é preciso fazer cuidadosamente a higiene
do planeta. É preciso se impor a obrigação constante de arrancar os baobás logo
que se diferenciam das roseiras, com os quais se parecem muito quando são
novinhos. É um trabalho muito maçante, mas muito fácil.
AVIADOR
Crianças! Prestem atenção aos
baobás!
ESQUETE
5. – O POR DO SOL NO PLANETA DO PEQUENO PRÍNCIPE
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Gosto muito do pôr do sol. Vamos
ver um pôr do sol...
AVIADOR
Mas é preciso esperar...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Esperar o quê?
AVIADOR
Esperar que o sol se ponha.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Sempre penso que estou em casa.
(De fato. Como todo mundo sabe, quando é
meio-dia nos Estados Unidos, o sol está se pondo na França. Bastaria pode ir à
França num minuto para assistir ao pôr do sol. Infelizmente, a França fica
muito longe. Mas para o Pequeno Príncipe, em seu planeta tão pequeno, bastava
puxar a cadeira alguns passos. E você
contemplava o poente toda vez que quisesse...)
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Um dia, vi o sol se pôr quarenta
e quatro vezes!
Sabe... quando a gente está
triste demais, gosta muito do pôr do sol...
AVIADOR
No dia das quarenta e quatro
vezes, então, você estava tão triste assim?
ESQUETE
6. – O SENHOR COGUMELO
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Um carneiro, se come arbustos,
come também as flores?
AVIADOR
Um carneiro come tudo o que
encontra.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Mesmo as flores que têm
espinhos?
AVIADOR
Sim. Mesmo as flores que têm
espinhos.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Então os espinhos, para o que
servem?
...
Os espinhos, para o que servem?
AVIADOR
(impaciente)
Os
espinhos não servem para nada, é pura maldade da parte das flores.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Oh!
Não acredito em você! As flores
são frágeis. São ingênuas. Tentam se assegurar como podem. Julgam-se terríveis com
seus espinhos...
E você? Acha que as flores...
AVIADOR
(impaciente)
Que
flores que nada! Não acho nada! Estou ocupado com coisas sérias!
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Coisas sérias!
Você fala como os adultos!
Você confunde tudo... mistura
tudo! (o Pequeno Príncipe agita os
cabelos muito dourados)
Conheço
um planeta onde há um senhor cor de carmim. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou
uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez nada além de contas. E o dia inteiro
ele repete como você: “Sou um homem sério! Sou um nomem sério!”, e se sente
cheio de or gulho. Mas isso não é um homem, é um cogumelo!
AVIADOR
O quê?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Um cogumelo.
Faz milhões de anos qua as
flores produzem espinhos. Faz milhões de anos que, mesmo assim, os carneiros
comem as flores. E não é sério tentar entender por que elas se dão tanto trabalho
para produzir espinhos que nunca servem para nada? Não é importante a guerra
dos carneiros e das flores? Não é mais sério e mais importante do que as contas
de um senhor gordo e vermelho? E se eu, eu conheço uma flor única no mundo, que
não existe em nenhuma parte a não ser em meu planeta, e que um carneriro
pequeno pode aniquilar de um só golpe, como se nada fosse, uma manhã, sem se
dar conta do que está fazendo, isso não é mais importante?
Se alguém ama uma flor que é um
exemplar único entre os milhões e milhões de estrelas, isto basta para ficar
feliz ao olhá-las. “Minha flor está lá em algum lugar...”. Mas , se o carneiro
come a flor, para ele é como se, de repente, todas as estrelas se pagassem! E
isso não é importante!
(O Pequeno Príncipe soluça e chora)
AVIADOR
A flor que você ama não corre
perigo... Vou lhe desenhar uma focinheira, para o carneiro... Vou lhe desenhar
uma armadura para a flor... Vou... É tão misterioso, o país das lágrimas.
ESQUETE
7. A FLOR DO PLANETA DO PEQUENO PRÍNCIPE
FLOR
Oh! Acabo de despertar... O
senhor me perdoe... Ainda estou toda despenteada...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Como a senhorita é linda!
FLOR
Não é mesmo? – respondeu a flor suavemente. – E nasci
ao mesmo tempo que o sol.
É hora do desjejum; o senhor
faria a gentileza de me atender...
Eles podem vir com suas garras,
os tigres.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Não há tigres em meu
planeta. E além disso, tigres não comem
ervas.
FLOR
Não sou uma erva.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Perdoe-me
FLOR
Não temo os tigres, mas tenho
horror a correntes de ar. O senhor não teria um anteparo?
De noite, o senhor me colocará
sob uma redoma. Faz muito frio aqui em sua casa. Está mal instalada. Lá , de
onde venho...
E o anteparo?
O PEQUENO
PRÍNCIPE
Eu ia buscar, mas a senhorita
estava falando comigo!
(Na manhã da partida o Pequeno Príncipe
colocou o planeta em ordem. Limpou dois pequenos vulcões ativos nos quais
aquecia o café da manhã e um vulcão inativo. E também arrancou os últimos
brotos de baobás. E quando regou a flor uma última vez e preparava-se para
abrigá-la sob sua redoma, sentiu-se com vontade de chorar.)
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Adeus...
Adeus.
FLOR
Fui tola. Você me perdoa? Trate
de ser feliz.
Mas claro, eu amo você. Você
nunca soube, por culpa minha. Não tem impontância. Mas você foi tão tolo quanto
eu. Trate de ser feliz... Deixe essa redoma em paz. Não quero mais.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Mas o vento...
FLOR
Não estou tão resfriada assim...
O ar fesco da noite me fará bem. Sou uma flor.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Mas os animais...
FLOR
Tenho de tolerar duas ou três
lagartas se quiser conhecer as borboletas. Parece que são lindas. Senão, quem me virá visitar? Você vai estar longe. Quanto
aos animais ferozes, não tenho medo. Tenho minhas garras.
Não se demore tanto, é
irritante. Você decidiu ir embora. Vá.
ESQUETE
8 – O SÉTIMO PAÍS QUE O PEQUENO PRÍNCIPE VISITOU: A TERRA.
NARRADOR
A Terra não é um planeta
qualquer! Ela conta com cento e onze reis (sem esquecer, claro, os reis negros),
sete mil geógrafos, novecentos mil homens de negócios, sete milhões e meio de
beberrões, trezentos e onze milhões de vaidosos, isto é, cerca de dois bilhões
de adultos.
Para lhes dar a idéia das
dimensões da Terra, digo que, antes da invenção da eletricidade, era preciso
manter um verdadeiro exército de quatrocentos e sessenta e dois mil e
quinhentos e onze acendedores de lampiões no conjunto dos seis continentes.
Visto a certa distância, isso
criava um efeito deslumbrante. Os movimentos desse exército eram regrados como
os de um balé. Primeiro vinham os acendedores de lampiões da Nova Zelândia e da
Austrália. Depois de acenderem seus lampiões, iam dormir. Então entravam na
dança os acendedores de lampiões da China e da Sibéria. Depois eles também
desapareciam nos bastidores. Então vinha a vez dos acendedores de lampião da
Rússia e da Índias. Depois, a dos da África e da Europa. Depois, a dos da
América do Sul. Depois, dos da América do Norte. E nunca erravam na ordem de
entrada em cena. Era grandioso.
Somente o acendedor do único
lampião do Polo Norte e seu confrade do único lampião do Polo Sul levavam uma
vida de ócio e indolência: trabalhavam duas vezes por ano.
Os adultos, claro, não
acreditarão. Eles imaginam que ocupam muito espaço. Julgam-se importantes como
baobás. Recomendem, então, que façam os cálculos. Eles adoram números: vão
gostar. Mas não percam tempo com essa amolação. É inútil. Vocês confiam em mim.
ESQUETE
9 – A LIÇÃO DA RAPOSA: TU ÉS RESPONSÁVEL POR QUEM CATIVAS
RAPOSA
Bom dia.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Bom dia.
RAPOSA
Estou aqui, sob a macieira...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Quem é você? É muito bonita...
RAPOSA
Sou um raposa.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Venha brincar comigo, estou tão
triste...
RAPOSA
Não posso brincar com você. Não
sou domesticada.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Ah! Desculpe... O que significa
“domesticar”?
RAPOSA
Você não é daqui; o que procura?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Procuro os homens. O que
significa “domesticar”?
RAPOSA
Os homens, têm espingardas e
caçam. É muito incômodo! Também criam galinhas. É a única coisa que têm de
interessante. Galinhas, é o que você procura?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Não. Procuro amigos. O que
significa “domesticar”?
RAPOSA
É uma coisa muito esquecida.
Significa “criar laços”...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Criar laços?
RAPOSA
Isso. Você, para mim, ainda não
passa de um menino igual a cem mil meninos. E não preciso de você. E você
também não precisa de mim. Eu, para você, não passo de uma raposa igual a cem
mil raposas. Mas, se você me domesticar, teremos necessidade um do outro. Você
será para mim único no mundo. Eu serei para você única no mundo...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Começo a entender. Há uma
flor... creio que ela me domesticou...
RAPOSA
É possível. Vê-se de tudo na
Terra.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Oh! Não é na Terra.
RAPOSA
Em outro planeta?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Sim.
RAPOSA
Há caçadores nesse planeta?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Não.
RAPOSA
Ah, isso é interessante! E
galinhas?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Não.
RAPOSA
Nada é perfeito.
Minha vida é monótona. Caço as
galinhas, os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem, e todos os homens
se parecem. Então sinto um pouco de tédio. Mas, se você me domesticar, minha
vida ficará como que ensolarada. Reconhecerei um som de passos que será
diferente de todos os outros. Aos outros passos, eu me enfio embaixo da terra.
O seu me chamará para fora da toca, como uma música. E outra coisa! Está vendo
lá embaixo os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os
campos de trigo não me evocam nada. E isso é triste! Mas você tem os cabelos
dourados. Então será maravilhoso quando tiver me domesticado! O trigo, que é
dourado, me lembrará você. E amarei o som do vento no trigo...
Por favor... me domestique!
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Bem que gostaria, mas não tenho
muito tempo. Tenho amigos a fazer e muitas coisas a conhecer.
RAPOSA
Só se conhecem as coisas com que
se criam laços. Os homens não têm mais tempo de conhecer nada. Compram as
coisas feitas nas lojas. Mas, como não existem lojas de amigos, os homens não
têm mais amigos. Se você quer um amigo, me domestique!
O
PEQUENO PRÍNCIPE
O que é preciso fazer?
RAPOSA
É preciso ter muita paciência.
No começo você vai se sentar um pouco longe de mim, assim, na relva. Vou
olhá-lo pelo rabo do olho e você não dirá nada. A linguagem é fonte de mal
entendidos. Mas, a cada dia, você poderá se sentar um pouco mais perto...
Mais valeria voltar a mesma
hora. Se você vem, por exemplo, às quatro horas da tarde, desde as três
começarei ficar feliz. Quanto mais a hora avançar, mais feliz me sentirei. Às
quatro, já estarei me agitando e me inquietando; descobrirei o preço da
felicidade! Mas, se você vem a qualquer momento nunca saberei a que horas vou
preparar o meu coração... É preciso ter rituais.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
O que é um ritual?
RAPOSA
É também outra coisa muito
esquecida. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias, uma hora
diferente das outras horas. Há um ritual, por exemplo, entre meus caçadores.
Nas quintas-feiras, eles dançam com as moças da aldeia. Então a quinta-feira é
um dia maravilhoso! Vou passear até as vinhas. Se os caçadores dançassem a
qualquer momento, todos os dias se pareceriam e eu não teria meus dias de
folga.
(Assim o pequeno príncipe domesticou a
raposa. E quando a hora da partida se aproximou)
RAPOSA
Ah! Vou chorar.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
É culpa sua; não lhe desejava
nenhum mal, mas você quis que eu a domesticasse...
RAPOSA
Pois claro.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Mas você vai chorar!
RAPOSA
Pois claro!
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Então você não ganha nada com
isso!
RAPOSA
Ganho sim, por causa da cor do
trigo.
Vá rever as rosas. Você
entenderá que a sua é única no mundo. Volte para se despedir de mim e lhe darei
um segredo de presente.
O
PEQUENO PRÍNCIPE (que foi rever as rosas
da Terra)
Vocês não se parecem em nada com
minha rosa, ainda não são nada. Ninguém criou laços com vocês e vocês não
criaram laços com ninguém. São como era minha raposa. Não passava de uma raposa
igual a cem mil outras. Mas fiz dela a minha amiga e agora é única no mundo.
São bonitas, mas são vazias. Não
se pode morrer por vocês. Claro, minha rosa, um passante comum julgaria que ela
é parecida com vocês. Mas ela sozinha é mais importante que todas vocês, pois
foi ela que reguei. Pois foi ela que coloquei sob a redoma. Pois foi ela que
protegi com o anteparo. Pois foi dela que removi e matei as lagartas (exceto
duas ou três para as borboletas). Pois foi ela que escutei a se queixar, a se
gabar ou até, às vezes, se calar. Pois é minha rosa.
(O pequeno príncipe voltou para encontar a
raposa)
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Adeus...
RAPOSA
Adeus... Eis o meu segredo. É
muito simples: não se vê bem a não ser com o coração. O essencial é invisível
aos olhos.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
O essencial é invisível aos
olhos
RAPOSA
É o tempo que você perdeu com
sua rosa que torna sua rosa tão importante.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
É o tempo que perdi com minha
rosa...
RAPOSA
Os homens esqueceram essa
verdade. Mas você não deve esquecê-la. Você fica responsável para sempre pelos
laços que cria. Você é responsável por sua rosa...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Sou responsável por minha
rosa...
ESQUETE
10. – PROCURANDO UM POÇO
AVIADOR
Ah! Suas lembranças são muito
bonitas, mas ainda não consertei meu avião, não tenho mais nada para beber e
também ficaria muito feliz se pudesse andar com toda a calma até uma fonte.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Minha amiga raposa...
AVIADOR
Meu rapazinho, não se trata mais
da raposa!
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Por quê?
AVIADOR
Porque vamos morrer de sede...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
É bom ter tido um amigo, mesmo
que a gente vá morrer. Fico contente, eu, de ter tido uma amiga raposa...
Também tenho sede... vamos
procurar um poço...
AVIADOR
Então você também tem sede?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
A água pode ser boa também para
o coração...
As estrelas são belas por causa
de uma flor que não se vê...
O deserto é belo.
O que embeleza o deserto, é que
ele esconde um poço em algum lugar...
AVIADOR
Sim, seja a casa, sejam as
estrelas ou o deserto, o que faz a sua beleza é invisível!
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Fico contente que você concorde
com a minha raposa.
(O aviador encontra o poço com o pequeno
príncipe adormecido no colo)
ESQUETE
11.- COMEÇO DE UMA DESPEDIDA.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Os homens, se enfurnam nos
expressos, mas não sabem mais o que procuram. Então se agitam e giram em
círculos...
Não vale a pena...
AVIADOR
É estranho, está tudo pronto: a
polia, o balde e a corda.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Ouça, acordamos esse poço e ele
canta...
AVIADOR
Deixa que eu faço, é pesado
demais para você.
O PEQUENO
PRÍNCIPE
Tenho sede dessa água, dê-me de
beber...
AVIADOR (Em
pensamento)
(E
entendi o que ele havia procurado. Ergui o balde até os seus lábios. Ele bebeu,
os olhos fechados. Era doce como uma festa. Essa água era muito diferente de um
alimento. Nascera da caminhada sob as estrelas, do canto da polia, do esforço
de meus braços. Era boa para o coração, como um presente. Quando era pequeno,
era assim que a luz da árvora de Natal, a música da Missa do Galo, a doçura dos
sorrisos compunham todo o brilho do presente de Natal que eu ganhava.)
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Os homens daqui cultivam cinco
mil rosas num mesmo jardim... e não encontram o que procuram...
AVIADOR
Não encontram
O
PEQUENO PRÍNCIPE
E no entanto poderiam encontrar
o que procuram numa única rosa ou num pouco de água...
AVIADOR
Certamente.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Mas os olhos são cegos. É
preciso procurar com o coração.
Você precisa manter a sua
promessa.
AVIADOR
Que promessa?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Você sabe... uma focinheira para
o meu carneiro... sou responsável por essa flor!
(O Aviador tira do bolso os seus esboços)
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Seus baobás se parecem um pouco
com repolhos...
AVIADOR
Oh!
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Sua raposa... as orelhas... se
parecem um pouco com chifres... e são compridas demais.
AVIADOR
Você está sendo injusto,
rapazinho, eu não sabia desenhar nada além de jiboias fechadas e das jiboias
abertas.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Oh! Servirão, as crianças sabem.
AVIADOR
Você tem planos que
desconheço...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Você sabe, minha queda na
Terra... amanhã faz aniversário...
Caí bem pertinho daqui...
AVIADOR
Então não foi por acaso que, na
manhã em que o conheci, oito dias atrás, você andava assim, sozinho, a mil
milhas de todas as regiões habitadas? Estava voltando ao local da queda?
Por causa, talvez, do
aniversário?...
Ah! Estou com medo...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Agora você precisa trabalhar.
Precisa voltar para a sua máquina. Eu o espero aqui. Volte amanhã ao
anoitecer...
AVIADOR
(Em pensamento)
(Mas
não fiquei tranquilo, lembrei-me da raposa. Quando se criam laços, a gente
corre o risco de chorar um pouco...)
ESQUETE
12. – INDO PARA CASA. A DESPEDIDA
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Fico contente que você tenha
descoberto o que faltava em sua máquina. Poderá voltar para casa...
AVIADOR
Como você sabe?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Eu também, hoje, volto para
casa...
É bem mais longe... é bem mais
difícil...
Tenho o carneiro que você me
deu. E tenho a caixa para o carneiro. E tenho a focinheira...
AVIADOR
Meu rapazinho, você sentiu
medo...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Sentirei muito mais medo esta
noite...
AVIADOR
Meu rapazinho, quero ainda ouvir
sua risada...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Esta noite fará um ano. Minha
estrela estará exatamente acima do lugar onde caí no ano passado...
AVIADOR
Meu rapazinho, essa história de
serpente, de hora marcada, de estrela não será apenas um sonho ruim?...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
O que é importante não se vê...
AVIADOR
Certo...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Assim é com a flor. Se você ama
uma flor que está numa estrela, é doce olhar o céu à noite. Todas as estrelas
ficam floridas.
AVIADOR
Certo...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Assim é como a água. Aquela que
você me deu a beber era como uma música, por causa da polia e da corda...
lembra... era boa.
AVIADOR
Certo...
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Você olhará as estrelas à noite.
Em casa é pequeno demais para eu lhe mostrar onde fica. É melhor assim. Minha
estrela será para você uma das estrelas. Então você amará fitar todas as
estrelas... Todas serão amigas suas. E além disso vou lhe dar um presente...
AVIADOR
Ah! Rapazinho, rapazinho, como
amo ouvir esse riso.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Será este, justamente, meu
presente... será como foi com a água.
AVIADOR
O que você quer dizer?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
As pessoas têm estrelas que não
são iguais entre si. Para uns, os que viajam, as estrelas são guias. Para
outros, não passas de pequenas luzinhas. Para outros, que são cientistas, são
problemas. Para meu homem de negócios, eram ouro. Mas todas essas estrelas
ficam caladas. Já você terá estrelas como ninguém mais...
AVIADOR
O que você quer dizer?
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Quando você olhar o céu, à
noite, e como estarei numa delas, como rirei numa delas, será como se todas as
estrelas rissem. Você terá estrelas que sabem rir.
E quando você se sentir consolado
(a gente sempre se consola), ficará contente por ter me conhecido. Será sempre
meu amigo. Terá vontade de rir comigo. E, às vezes abrirá sua janela, à toa, só
pelo prazer... E seus amigos ficarão muito surpresos ao vê-lo rir olhando o
céu. Então você lhes dirá: “Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!”. E
pensarão que você é louco. Uma bela peça que lhe pregarei...
Será como se, em lugar das
estrelas, eu lhe tivesse dado um monte de pequenos guizos que sabem rir...
Esta noite... você sabe... não
venha.
AVIADOR
Não vou abandoná-lo.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Digo-lhe isso... também por
causa da serpente. Para que não pique você... As serpentes são maldosas. Podem
picar só pelo prazer...
AVIADOR
Não vou abandoná-lo.
O
PEQUENO PRÍNCIPE
Na verdade, elas não têm mais
veneno para a segunda picada...
Ah! Você está ai...
Você faz mal. Vai sofrer. Vai
parecer que morri e não será verdade
Você entende. É longe demais.
Não posso levar esse corpo. É pesado demais.
Mas será como uma casca velha
abandonada. Cascas velhas não são tristes...
Será agradável, sabe. Eu também
olharei as estrelas. Todas as estrelas serão poços com uma polia enferrujada.
Todas as estrelas me darão de beber...
Será tão divertido! Você terá
quinhentos milhões de guizos, eu terei quinhentos milhões de fontes...
É ali. Deixe-me dar um passo
sozinho
Sabe... minha flor... sou
responsável! E ela é tão frágil! E é tão ingênua! Tem quatro espinhos de nada
para protegê-la contra o mundo...
Pronto... É isso...
(Houve apenas uma cintilação amarela perto
de seu tornozelo. Ele ficou imóvel por um instante. Não gritou. Caiu suavemente
como cai uma árvore. Não fez sequer um ruído, por causa da areia.)
ESQUETE
13. FIM
AVIADOR
(Em pensamento)
(Esta,
para mim, é a paisagem mais bela e mais triste do mundo. É a mesma da página
anterior, mais desenhei mais uma vez para mostrar-lhes bem. Foi aqui neste
lugar que o pequeno príncipe apareceu e depois desapareceu.
Olhem
atentamente essa paisagem para poder reconhecê-la, se algum dia vocês forem até
a Àfrica, no deserto. E se por acaso passarem por lá, peço-lhes que não se
apressem, aguardem um pouco sob a estrela! Se então um menino se aproximar, se
estiver rindo, se tiver cabelos dourados, se não responder às perguntas que lhe
fizerem, vocês adivinharão quem ele é. Então façam uma gentileza! Não me deixem
tão triste: escrevam-me logo contando que ele vlotou...)
FIM.